domingo, dezembro 09, 2007

Tantas coisas...







Tarde de domingo...
Tempo fechado, dia enferrujado. Mas não há de ser nada...
Vamos recapitular o resto da semana que passou.

Dia 7, sexta, era o dia do aniversário da Mara.
Tentei falar com ela o dia todo, mas não deu certo. Devia andar a fazer os bolos para distribuir aos amigos, rua afora, que é o que costumeiramente faz, ano após ano. Acha que aniversário é assim, nada de festas em casa ou em clubes, nada disso. Faz um monte de bolos e, de pratinhos e garfinhos em punho, distribui a quem encontrar. Na escola onde trabalha, na faculdade, no forró onde vai dançar aos sábados...e é muito feliz assim. Uma grande almoçarada com os filhos, onde se esmera nos pratos, às vezes um jantar. Mas a festa mesmo é do jeito que mais lhe agrada.
Bem que faz. Acho um jeito bonito de comemorar a vida. Que seja por muitos e muitos e muitos anos mais, é o que desejo. E que cada vez tenha mais e bons amigos prá repartir os bolos.

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Encontrei com a Mariângela e andamos a caminhar pela beira do Tejo durante umas duas horas, quase. O dia estava bom, calorzinho e tal. Depois fomos à casa dela, acertar uns detalhes de internet, orkut, essas coisas. Dali pro Continente, comprar os presentinhos dos meus netos, prá mandar pelo Correio. Criança tem que ter um monte de pacotinhos, no Natal. Sempre achei isso. Nada de presentes muito caros, nem muito mirabolantes. Brinquedinhos coloridos, bonequinhas...carrinhos. Natal devia ser isso, sempre, prá ter mais graça.

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Logo que cheguei à Gare do Oriente, antes de encontrar a Mariângela, ouvi um barulho de tambores.
Curiosa, claro. Flor de curiosa, subi as escadas que dão para a rua, no pavimento superior, prá bisbilhotar. Havia um movimento em prol do Direito à Alimentação. Um grupo de tambores fazia uma apresentação, enquanto algumas pessoas serviam os passantes, a quem quisesse, um prato de comida, que tiravam em conchas de uma panela enorme. Estavam ali a manifestar-se em virtude da II Cimeira UE - ÁFRICA, onde estariam reunidos os governantes e chefes de Estado europeus e africanos, pela Paz e Segurança, Democracia e Direitos Humanos e ainda Comércio e Integração Regional.
Pediam atenção à fome e o direito à uma Alimentação Adequada, como direito humano básico em vários documentos e tratados internacionais que, como tudo, acaba por ficar apenas no papel.
Ainda conversei com uma das pessoas, que me explicou o movimento e me passou um folheto, escrito em português, de um lado e, em inglês do outro. Depois me ofereceu um prato e perguntou se eu queria almoçar com eles. Agradeci, delicadamente, e falei que já havia almoçado, do contrário teria muito prazer em fazer companhia a eles. E perguntei se podia ajudar com alguma coisa, de alguma forma. Ela apenas sorriu um sorriso aberto, de dentes muito brancos e bonitos e agradeceu, falando que não precisava de nada, só de atenção. Eu sorri de volta. E fui andando, meio engasgada, sentindo os olhos arderem e aquele aperto no peito, que a gente não controla...

Tentando entender a vida tão simples e tão complicada.
A comida cheirava bem, parecia bastante condimentada, senti um cheiro forte a cominho. Mas sabia bem, como se diz por aqui. Grãos, feijões, não pude ver o que mais havia. Muitos turistas e curiosos (como eu) andavam por ali a encher os pratos. Fotógrafos, repórteres, algum jornalista, câmeras. Mas não li nada em jornal algum, nem no dia, nem depois. Na TV também não vi.
Afastei-me sem pressa...pensando naquilo tudo e entrei no Centro Comercial Vasco da Gama, à procura da Mariângela. Quando nos encontramos, sugeri que voltássemos ali, prá ela ver o que acontecia. E retornamos, antes de começarmos a caminhada para os lados da Bobadela, pela beira do rio.
Um dado impressionante prá mim...Nos últimos 30 anos, a produção global de cereais aumentou 84% e, mesmo assim, os números da fome não diminuiram nunca. 850 milhões de pessoas passam fome em todo o mundo. Não que eu não soubesse, mas é preciso bater de frente com esses fatos prá gente parar um pouco e refletir. Aquilo me martelando na cabeça.
Não dá prá gente ficar alheio...não dá.

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A II Cimeira UE - ÁFRICA está acontecendo aqui em Lisboa, nos Pavilhões da FIL, no Parque das Nações. E encerra hoje, domingo. Falo sobre isso daqui a pouco.
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