sábado, janeiro 28, 2012

CHICÃO - Querido por todos




Desde Florianópolis, a gente se emocionou demais com as homenagens feitas ao Chico, ontem, na abertura oficial da Copa Santiago.
Estivemos acompanhando a transmissão da Rádio Santiago e da Rádio Verdes Pampas, através da Internet. Eu, a Eda, o Elias, os filhos e os netos dela.
Estas atitudes traduzidas em manifestações emocionadas, que fazem os momentos tão especiais na vida da gente, nos fazem acreditar verdadeiramente que toda a vida, o carinho, o amor, o trabalho, a forma de se posicionar perante o mundo e a força da luta pela justiça e igualdade para todos, características tão marcantes do nosso Chicão, valeram completamente a pena.
Temos muito orgulho do homem, da pessoa, do amigo verdadeiro que ele foi.

Obrigada a todos, do fundo do coração.

Recuerdos

A maior parte das minhas férias, em criança e adolescente, eram divididas entre a praia do Cassino e a casa de minha avó materna, a vó Maria, na cidade fronteiriça de Rivera.
Os carnavais eram quase todos de revolver aquele baú mágico que havia no canto do quarto da avó e encontrar ali as fantasias mais inusitadas. Fazíamos sucesso nos bailes do Clube Uruguai, onde confetes e serpentina forravam o chão do salão e tenho uma vaga lembrança de que às vezes formavam montes que nos chegavam perto dos joelhos. Eram tempos de fartura, em todos os sentidos.
Minha avó Maria era daquelas figuras marcantes. Mulher de personalidade forte, descendente de um português que aportou em Pelotas, casou muito cedo com meu avô, um castelhano nascido dentro de um navio no Mar del Plata. Conheceram-se em Pelotas, onde ele, neto de avó índia, era proprietário de uma ferragem e uma espécie de cônsul argentino naquelas paragens. A minha avó vivia com os dois irmãos e o pai, em virtude da morte prematura de sua mãe. Era ainda uma menina sonhadora quando passou à condição de esposa. Meu avô, alguns anos mais velho, tratava-a com a delicadeza proporcional à fragilidade que acreditava ter, enchendo-a de mimos, presentes e um carinho quase de pai. Quando ela, por herança, recebeu umas terras no interior doUruguai, foram viver em Rivera e ali estiveram até o fim de suas vidas, como cidadãos uruguaios, embora sendo ela brasileira e ele argentino. Na verdade, a avó, por conta de ter casado com ele, também tinha cidadania argentina. Tiveram cinco filhos, a minha mãe, a tia Martha, o tio Beto, a tia Ude e a tia Marita. À exceção de minha mãe e da tia Martha, os outros vivem no Uruguai até hoje, as tias em Rivera e o tio em Tacurembó.
Minha mãe sempre me conta sobre a sua infância. São histórias bonitas, recheadas de imaginação e simbolismos. Uma verdadeira viagem. Fala desse tempo com denotado carinho, lembra a figura do pai, o meu avô Hidro Alves Ferreira. Um homem alto, muito elegante, de traços bonitos, que andava sempre muito bem arranjado e cheirando a bons perfumes. Dono de gestos e palavras educadas, era um gentleman. Lembro dele assim, vestindo uns ternos claros e muito alinhados. Era carinhoso com a gente. E deu uma educação interessante aos filhos, é um pouco dele essa coisa de descobrir, desbravar, viver com uma boa dose de ousadia e ter a responsabilidade total sobre os próprios atos. Foi um homem bem sucedido. Uma pessoa positiva e sonhadora, mas com os pés no chão. Tenho pena de não ter convivido mais com ele, ficou gravemente doente e faleceu quando eu andava perto dos doze anos.
Curioso que minha avó, mesmo sendo de origem portuguesa, tinha umas feições e um estilo inconfundíveis de espanhola. E tinha lá uns cabelos muito longos, que conservou até bem velhinha. Adorava vê-la pentear-se calmamente os longos cabelos, de manhã, quando acordava. Dentro de uma camisola clara e comprida, parecia uma menina daqueles filmes antigos. Depois, num gesto preciso e rápido, enrolava-os em um pequeno coque no alto da cabeça e adquiria ares de senhora elegante. Vestia costumeiramente saia e uma blusa branca ou bege, tipo camisa, abotoada na frente. Por cima um casaquinho justo de linha ou lã, também de botões pequeninos e delicados, que abotoava, deixando à mostra apenas a gola redonda da blusa. Acho que completava com um pequeno camafeu. Nos pés, mocassins escuros, de saltos baixos, confortáveis. Não lembro da minha avó usando jóias, acho que era prática demais prá isso. Usava, sim, uns lenços muito bem jogados sobre os ombros, que lhe faziam ainda mais bonita.
Acordava cedo e vivia em uma azáfama com suas atividades diárias. A esta altura morava sozinha naquele casarão enorme, na esquina da Ituzaingó y Rodó. No outro canto do quarto de dormir,havia um cofre grande e pesado, onde guardava uma lata colorida de caramelos ou coisa que o valha. Nela, moedas e notas de pesos uruguaios. Tinha o dinheiro em casa, não acreditava em bancos, contra a vontade de minhas tias mais novas, que temiam algum assalto, já que vivia sozinha. Mas ela sempre fez o que quis e bem entendeu. E desconfio que isso não foi um privilégio só dela nesta família. Era uma mulher muito forte, de personalidade marcante, de vontades férreas e muita atitude.
E tinha esse lado criativo.
Muito antes de sonharmos com as coisas de inventar teatrinho de brinquedo, nas tardes ensolaradas de Domingos Petrolini, ela dirigia peças teatrais apresentadas aos paroquianos da igreja matriz, em Rivera. E produzia os figurinos das incontáveis peças, onde os filhos e os amigos dos filhos, grande parte das vezes, faziam parte. Como a brincar com bonecas grandes e a fazer-lhes as roupinhas. Não havia limites para os sonhos da minha avó. E escrevia-os todos e não só. Também relatava os fatos com maestria, como naquela vez em que sofreu um acidente em um trem que descarrilhou, numa de suas viagens pelo Uruguai, a vender lençóis finamente bordados, vindos de Santa Maria, que depois ela ensinou as filhas a bordar também. Enquanto o trem descarrilhava, ela escrevia. E depois. Fazia poemas de tudo, a vó Maria. E depois lia-os nas reuniões de família e ria-se muito ao contar as façanhas. Aos quase setenta, vivia em plenitude, como se a vida estivesse recém começando. Era independente, completamente dona do seu nariz.
Teve também um pequeno bar, na garagem de casa. Pois teve. Lembro de umas bolachas recheadas (as galletitas rellenas) que eram vendidas por peso, tiradas de latas grandes e coloridas. Ainda lembro o gosto. Uma verdadeira desgraça para as silhuetas. Mas naqueles tempos essa preocupação não havia. Eu era magrinha como um palito, nem saia usava, com vergonha das pernas finas, que mais pareciam caniços. Quero dizer, na verdade, que não gostava de usá-las. Mas a minha mãe achava bonito vestir-me com saias a la escocês, pregueadas e tudo, um pouquinho abaixo dos joelhos. E compunha o quadro com umas meias do tipo colegial, transparentes e coloridas, que combinavam com as cores da saia e da blusa, tecida por ela mesma (os twin sets de hoje). Nos pés uns mocassins portenhos, feitos à mão, baixinhos, comprados lá no Uruguai, mas vindos da Argentina e que até hoje procuro em todo o lado, mas não encontro para comprar. Claro, tinha também um laçarote de fita que, de certeza, pelas fotos que vejo, era maior do que a minha cabeça.
Ao lado da casa de minha avó, ali na Rodó, havia uma loja grande da FIAT, tipo concessionária com oficina. Os empregados vinham fazer o lanche ali no bar da avó e lembro que comiam sempre muito chocolate. Ela me explicava que era por causa do frio e que o chocolate ajudava a se manterem aquecidos. Eu não entendia muito bem, mas acreditava piamente. Tanto que às vezes me pego falando isso aos meus netos, hoje em dia.
O pessoal da loja eram os melhores clientes do bar. Foi ali que comecei a aprender o pouco de espanhol que sei. Ouvindo minha avó charlar com os fregueses, con el señor de la panadería, de la carnicería, de la florería, con las vecinas, con las amigas en la calle y con mis primitos, hijos de las tías más pequenãs que vivían alla. Tempos depois, já na adolescência, me apaixonei perdidamente por um dos filhos do dono da concessionária, o Daniel Fernández. E tivemos uma espécie de namoro en sério que, mesmo completamente inocente, custou algum incômodo à avó. Lembranças felizes, que talvez mereçam um capítulo a parte e noutra hora conto.

Hoje preciso sair à rua, porque o sol já me beija pela fresta da janela, aqui e agora, muitos e muitos anos depois.
Até a vista.

I N T R O S P E C Ç Ã O



O filme do Saura



Bom filme. Bom mesmo!
Mamãe faz 100 anos.
Como tudo o que ele faz.
Relações humanas retratadas como quem põe dedo em feridas.

Rafaela Aparício, no papel da matriarca, é um espanto.

E Geraldine Chaplin está impecável.
Recomendo. Aliás, não só. Obra prima. em tom surrealista.
Acho mesmo que deviam ver.

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Há três dias de molho. Fanha, nariz entupido e a garganta em pandarecos.




Éaaaa...

Vendo as novelinhas todas.

Bem bom.

Um caracol que passa e o lagarto abatido pelas "cãs" implacáveis.

Imagens do dia...


Tons geniais




Resquícios de carnaval, dando tom à vida em dias de céu emburrado.

Vida meio em suspenso, como os chapéus pendurados atrás da porta, esperando a vez de sair à rua cobrindo uma cabeça qualquer, em um dia de sol que há de vir.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Uma receitinha básica de Bolinhos de Peixe





Fica uma delícia, eu garanto.

Ingredientes:

4 colheres de chá de cebola picada
2 colheres de chá de alho picado
1 colherinha de café de pimenta dedo de moça
2 colheres de sopa de azeite (oliva)
200 gramas de peixe cortado em cubos (SEM espinhas)
150 gramas de atum
1 ovo
1 fatia de pão sem casca, pré-assado, no forno
1 colher de sopa de cebolinha verde picada
sal a gosto
óleo (necessário para fritar)

Preparo:

Em uma panela, refogue a cebola, o alho, a pimenta e o azeite. coloque os cubos de peixe e deixe em fogo médio até selarem.
Em um processador, ou liquidificador, bata o refogado com o ovo e o pão.
Misture a cebolina picada, no final.
Deixe a massa descansar na geladeira por 20 minutos. Faça bolinhas de mais ou menos 30g cada e frite em óleo quente.
Sirva com folhas verdes e temperos de sua preferência.

(Receita extraída da Revista ALTA Gastronomia, ano 13 - http://www.altagastronomia.com.br/ )

Vai super bem com uma cervejinha gelada.
Depois que fizerem, me contem.
Bom apetite.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Essas coisas

A minha prima Bella me conta que um cientista ( ou era um médico?) dizia ao Jô que Alzheimer é uma questão de DNA e não de modo de vida ou alimentação especial. E que tudo o que se diz que possa vir a retardar a doença não passa de especulação, sem nenhuma fundamentação científica.

Tsc...tsc...

Ah...mas também falou que escrever é um santo remédio. Manter a mente ocupada, em função o tempo todo.
Não falou em ler, acho que não deve ter falado, pelo menos ela não comentou.
Mas disso falo eu.
Acho que ler ajuda no exercício mental.
E ver filmes, será que ajuda?
Tô aqui...especulando.

Ferreira Gullar

Há pouco estava ali no Canal Brasil, a ler seus poemas e falar do processo de criar.
Fiquei fã.
Ele é uma figura ímpar.

Sob o ventilador de teto



O barulho é compassado e lento.
Lá fora, o sol.
Tarde quente e clara. Limpa.
Céu muito azul.
Mesmo assim, não dá vontade de ir andar. Melhor cedinho, pela manhã.
A praia deve estar cheia demais.
Vou ficando por aqui, entre livros e filmes, escrevendo um pouco, prá variar.


Ontem pela manhã assaltaram três argentinos que caminhavam na praia, lá para os lados de Moçambique, onde é menos frequentado. O vizinho contou que houve até tiros e que um dos argentinos ficou machucado.
Eram quatro os assaltantes. Um surfista viu a cena e veio até a Barra pedir socorro. Os bombeiros levaram o ferido ao hospital.

Durante a noite haviam arrombado o carro dos mesmos argentinos.

Estou pasma.

O mundo se complica mais a cada dia.

Uma pena.

O pardal

Do outro lado da vidraça está o pássaro.
Eu aqui, do lado de dentro, tentando entender que significado tem isso tudo.
Desde que voltei de Santiago, no início de dezembro, tem sido assim. Todos os dias, ora na janela aqui do quarto, ora naquela da área de serviço. Ouço as batidas contra o vidro, quando acordo, de manhã. Olho. Ali está.
Agora, e hoje tem estado mais insistente, atira-se contra a vidraça, tenta pousar na madeira da janela e para, não sei se me vê ou não. Parece que me olha. Depois volta ao muro e se lança no espaço vazio entre o muro e a janela com a força de quem tenta atravessar o vidro. Faz isso incontáveis vezes. Fico preocupada que se machuque. Mas ele nunca desiste.
Nem sei dizer se é o mesmo todos os dias ou se há mais de um. Vem um de cada vez.
Já experimentei abrir a janela, prá ver se quer entrar, mas não. Nunca entra. A função dele é com a vidraça, sempre e só com ela.
No outro parapeito, o da janela da área de serviço, coloco alpiste todos os dias. Comecei a fazer isso depois que a minha amiga Ana contou ter lá em casa uma família toda de pardais a baterem em sua janela.
Dá comida. Resolvi dar também.
Ele espalha todo o alpiste pelo chão e continua em seu exercício de atravessar o vidro.
Será que se vê em uma espécie de espelho e pensa (pensa?) ser um outro pássaro, a quem decide fazer companhia junto à vidraça?
Tenho andado a observá-lo. Talvez um dia descubra. Ainda não consegui fotografá-lo.
Continuo tentando.