Do outro lado da vidraça está o pássaro.
Eu aqui, do lado de dentro, tentando entender que significado tem isso tudo.
Desde que voltei de Santiago, no início de dezembro, tem sido assim. Todos os dias, ora na janela aqui do quarto, ora naquela da área de serviço. Ouço as batidas contra o vidro, quando acordo, de manhã. Olho. Ali está.
Agora, e hoje tem estado mais insistente, atira-se contra a vidraça, tenta pousar na madeira da janela e para, não sei se me vê ou não. Parece que me olha. Depois volta ao muro e se lança no espaço vazio entre o muro e a janela com a força de quem tenta atravessar o vidro. Faz isso incontáveis vezes. Fico preocupada que se machuque. Mas ele nunca desiste.
Nem sei dizer se é o mesmo todos os dias ou se há mais de um. Vem um de cada vez.
Já experimentei abrir a janela, prá ver se quer entrar, mas não. Nunca entra. A função dele é com a vidraça, sempre e só com ela.
No outro parapeito, o da janela da área de serviço, coloco alpiste todos os dias. Comecei a fazer isso depois que a minha amiga Ana contou ter lá em casa uma família toda de pardais a baterem em sua janela.
Dá comida. Resolvi dar também.
Ele espalha todo o alpiste pelo chão e continua em seu exercício de atravessar o vidro.
Será que se vê em uma espécie de espelho e pensa (pensa?) ser um outro pássaro, a quem decide fazer companhia junto à vidraça?
Tenho andado a observá-lo. Talvez um dia descubra. Ainda não consegui fotografá-lo.
Continuo tentando.
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