quarta-feira, dezembro 19, 2007

Ausência...

Pois fazem dois dias que não escrevo nada...
Um pouco, por andar envolvida com as funções de Natal.
Outro...sei lá, não me deu vontade.
E outro mais é que ando meio emotiva. Bastante. Chorando até em propaganda de TV, prá não dizer outra coisa...rssssssss. E olha que aqui até nem são lá essas coisas de emocionantes...mas choro igual. É que essas coisas de Natal, junção de família, desejo de reunir todo mundo e já não dá...

Mas não só por isso, a data em si me deixa um tanto melancólica, algo que nem sei explicar muito bem, só sentir.
Daí que fico na minha...choro as minhas pitangas e depois tento acionar o meu lado Pollyanna com toda a força.
Há ainda outro pouco...que é um pouco bem grande...ando devorando o Codex 632. O livro gruda mesmo. Daí não sobra muito tempo pro PC.
Enfim...
Hoje choveu desde que o dia amanheceu. Tava previsto pela moça do tempo.
Chuva de balde. Criada a Toddy.
Como sou do contra, fui prá rua, enfrentar a chuva, o frio, os transportes, as bichas e o mundaréu de gente que se aglomera nos shoppings e centros comerciais. Fomos eu e a Mariângela.
E o metro (aqui diz-se métro) era de borla, hoje. E de borla é "de graça". Por causa da inauguração do trecho Terreiro do Paço-Estação Santa Apolónia.
Linha Vermelha até a Alameda, Linha Verde até a Baixa Chiado e Linha Azul até o Parque. E afinal não era. Tinha que ter descido na Estação de São Sebastião, prá ir ao El Corte Inglés. Desce mesmo ao pé dele.
Passamos a tarde lá, subindo, descendo, olhando, de vez em quando um café quente...
Coisas prá encher os olhos e esvaziar os bolsos. Ainda mais prá gente, que ganha em Reais e tem que gastar em Euros...Mas deu prá encontrar algumas coisinhas...a preços razoáveis. E foi só. Bom mesmo é em tempos de saldos. Aí vale a pena.
Na volta, por conta de ser a borla, o metro andava devagar, quase parando. E cheio, claro. Mais ou menos como Santa Maria em dia de Passe Livre. Muito mais. E põe muito e mais nisso.
Em cada estação tínhamos que esperar uns 10 minutos, quase...
Gente saindo pelo ladrão, parecendo sardinha em lata, mas daquelas em que a lata vem generosamente preenchida. Cair com o movimento de parada e saída, lá dentro, nem pensar, que não há espaço. Mesmo assim não passam despercebidos os rostos graves, muito quietos. O clima que antecede o Natal...será que isso tá assim, melancólico mesmo prá toda a gente? Alguns conseguem até dormir de pé. Não há muitos sorrisos a passear no "métro". Tenho uma amiga paulista que não conseguiu se adaptar aqui. Comentava que, olhando para as pessoas à volta, se sentia culpada por estar feliz, logo de manhã. Acabou voltando prá São Paulo, depois de nove meses.

Já eu não me importo, embora estranhe. E talvez nunca me acostume.
Apesar disso, adoro Portugal e os portugueses. Se não gostasse, não teria vindo viver aqui. É uma questão de respeitar culturas distintas.

Na "camioneta" (e isso é o ônibus urbano e faz a linha estação-bairro) que vem prá Bobadela, o atendimento é quase vip. Ar quente, espaço total, tv a bordo, coisa e tal...dá até prá ficar observando os gestos de cada um que entra, as coisas que diz, as conversas ao telemóvel (ai, que coisa mais feia ficar ouvindo conversa dos outros!). A gente não pede prá ouvir, mas não tem como não. O povo aqui fala alto.
-Atão, pá, taischhhhhhhhh bom?
-Prá já digo-te que tó cá geladinha até os ossoshhhhhhhhhhh...
-É pá...andava no meio da chuva e do frio, que quereschhhhhhhh que eu faça?
-Não...por acaso hoje já não vou porque tó mal disposchhhhhhhhhta, mas amanhã logo se . À tarde dou-te uma apitadela, depoischhhhhhh do trabalho (há um amigo que diz que as coisas por aqui devem acontecer todas por acaso, tanto que o termo é usado no dia a dia dos portugueses)
-Não, pá...não me ligueschhhhhhhhhh...ligo-te eu.
-Atão vá...até logo...porta-te bem...beijinho grande...(esse é o final da maioria das conversas ao telemóvel, pelo menos as que tenho ouvido por aqui).
Beijinho "grande"? Por que "beijinho", se é grande? E por que "grande", se é "beijinho"? Nunca vou conseguir entender. A gente diz...beijão, abração. Aqui eles estão sempre a mandar muitos beijinhos prá toda a gente...(não é todo o mundo, como a gente fala no Brasil, porque daí era gente demais, segundo o Arsénio).
Uma loira entra reclamando que não conseguiu ver o destino da camioneta, por causa da chuva e o motorista resmunga qualquer coisa. Ela retruca (aqui toda a gente retruca). Pergunta de novo se é o Santa Iria...E já vai com trocentas pedras na mão...O motorista limita-se a tossir e depois devolve as pedras, quando ela já está sentada. Elementar...
O povo entra com os chapéus de chuva e as roupas pingando. A chuva não deu mesmo trégua hoje.
Sacudindo os pingos entra uma senhora de idade (aqui não se diz da terceira idade, diz-se sénior). Faceira, a senhora sénior. Não reclama, nem pergunta nada. Apenas assovia. Assovia?
Eu falei isso? Molhada que nem um pinto e assovia?
Pois é...assovia mesmo. Um fado qualquer. Que deve ser triste, por ser fado, mas que se torna alegre, por ser música, no assovio da velhota sénior.
É uma coisa rara por aqui. Bem rara.
Quando vejo isso fico feliz da vida. Dá vontade de rir sozinha.
Mas ainda há os moçambicanos, os caboverdianos, os angolanos. São divertidos, alegres e vestem roupas muito coloridas. E falam alto aos telemóveis, também. Uma linguagem que mais parece um dialeto entre o português de Portugal e português brasileiro, com algumas palavras que eu não chego a entender, por mais que me esforce. É meio cantado.
Atenta ao entra-e-sai das pessoas, nem dou pelo trajeto e já está.
Chego ao destino e desço. Abro o chapéu de chuva e começo a andar ligeiro. Mas o vento não deixa. Antes que vire tudo do avesso, fecho-o.
Em casa.
Bom.
Agora é banho, a sopa quente do costume e o pijama novinho de pelúcia. Lembro de um comentário que sempre faço e rio...um dia alguém me disse que "elas" não usam pijama. Por acaso eu tô bem preocupada que elas usem ou não. Frio é que não passo...

Ora, dava muito gozo...

Boa noite prá todos.
Portem-se bem...Beijinho Grande.



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