quinta-feira, novembro 22, 2007

De volta...

Num vôo duplo, com a repórter da TV, para uma matéria sobre vôo livre na Bahia.


Meu irmão Ricardo, com a filha Fernanda.


E como um pássaro...


...a voar no céu...

O MEU IRMÃO RICARDO

Há notícias boas, mas às vezes as notícias não tão boas nos confundem um pouco. É então hora de parar e dar uma pensada mais a fundo sobre o que andamos fazendo da nossa vida e essas coisas.

Na véspera do meu aniversário, dia 17, recebi uma ligação da Bahia, da Marly.
A Marly é uma pessoa extremamente querida, tenho uma amizade e um carinho muito grande por ela. Além disso, é minha cunhada. Conversamos um pouco, deu-me os parabéns e passou ao meu irmão Ricardo.

O meu irmão Ricardo é aquela pessoa inquieta, de uma retidão impecável, com um senso de justiça à qualquer prova, alegre, divertido, debochado e impetuoso. Mas acima de tudo, um grande amigo, para além de ser meu irmão. Poderia ficar aqui dizendo um montão de coisas mais, porque ele é mesmo um barato. Ninguém fica quieto perto do Ricardo. Com isso, acho que digo muito.
Pois esse cara voa. Antes já fez de tudo, começou pelo surf, depois o windsurf, foi inventando moda, até que chegou à asa delta e essas outras modalidades de vôo que a gente conhece. Voa há mais ou menos uns 25 anos. Em Salvador foi um dos pioneiros e tem uma paixão tão grande por voar que, quando some sem dizer nada, todos sabemos que anda a muitos metros do chão, com algumas bananas ao bolso, prá não ter que descer na hora da fome. Costuma ficar horas a fio a planar, como um pássaro. Diz que é uma forma de exercer a liberdade a pleno.
Já participou de inúmeros campeonatos, venceu alguns, perdeu outros tantos. Tem sido instrutor de vôo há muitos anos, de meninos e meninas em idades várias, que vão dos 18 aos 70 anos.

Aos dezoito anos, acabado o curso de Telecomunicações da ETFPEL (hoje CEFET Pelotas, RS), malinha na mão e um admirável senso de liberdade, ganhou a estrada e escolheu a Bahia prá ser a sua casa. Lá teve muitos empregos, para lá chamou os seus amigos, ali casou, teve seu dois filhos, construiu o seu mundo e uma empresa que presta serviços na área de projetos de telecomunicações, incluindo trabalhos para a Petrobrás.
Prá mim, é um exemplo de pessoa. Sempre com as rédeas da vida na mão e com uma visão otimista das coisas.

Mas aos corajosos a vida também prega as suas peças.
No dia em que eu estava viajando prá Lisboa, 27 de outubro, nem sabíamos, mas ele estava participando de um campeonato de vôo livre e, na descida, quase a pisar o chão, houve qualquer problema com a asa. Um acidente complicado, um grande susto.
Por seis meses já não trabalha, teve que fazer uma cirurgia na coluna, onde lhe meteram alguns parafusos, usa aquele colete horroroso, mas necessário, e vai ter que usá-lo por todos esses infinitos seis meses.
Voar, parece que nunca mais.

O meu irmão Ricardo acorda muito cedo, como eu. Corre na praia todos os dias, antes do trabalho, pratica vários esportes, é uma cara super saudável e tem uma alimentação impecável (nem preciso dizer que nisso não somos iguais, apesar de eu ter toda a intenção...)
Mas ele, com os seus 51 anos, é dono de uma jovialidade que não se vê em muito garoto por aí.
E agora?
Tolher os movimentos desse guri?
A gente está feliz porque não há danos na parte motora, porque ele tá vivo, porque podia ter sido pior e Deus o protegeu. Graças!

Parece bem, ao telefone. Já está caminhando, passa parte do tempo sentado, tem algumas dores...Mas tem também o incrível poder de superar-se a cada dia, isso tá nele. E a gente sabe.
Mas fiquei triste. Somos sete irmãos. Passou por tudo isso sem que ninguém soubesse, porque não quis nos incomodar, preocupar. E foi me contar agora, depois que tudo já anda a caminhar pro normal, segundo ele. E não nos deixa contar à mãe.
Tenho prá mim que às vezes nos impomos certas coragens desnecessárias.
Sei que ele vai sair dessa situação ainda mais rico, porque sempre aproveitou cada momento prá crescer e seguir em frente. É um vencedor, já disse, né.
Mas queria poder estar ao lado, dar colo, acarinhar, ouvir as suas histórias, dar risada com ele. Fazer com que esses seis meses passem muito mais depressa, porque sei que ficar amarrado a um colete, em casa, prá ele, vai ser um caos. Mas já anda a inventar modas...enfim...isso é dele.
Ontem ainda falamos sobre aproveitar esse tempo prá escrever as histórias que conta (e deve ter uma infinidade delas). Ficou animado. Eu também. Acho que levamos a termo e vai ser divertido. Já está lá com o seu PC portátil, a postos. Resta começar.
É um jeito de driblar a adversidade, através da criação.

Olha, meu irmão, seja como for e o que quiseres fazer, conta comigo. Sempre estivemos juntos, ainda que distantes fisicamente, mas há um elo muito forte a nos ligar. E sempre vai haver.
Muita energia e todo o amor do mundo! Vamos caminhando, um pouco a cada dia. Enquanto isso, repensamos a vida. Já não vais poder voar pelo céu, como um pássaro livre (e quanto a isso ainda tenho uma certa dúvida...se bem te conheço), mas há outros vôos à tua espera. E sei que saberás achar o caminho.
És um vencedor!

link

http://ibahia.globo.com/irado/corpo_materia.asp?modulo=33&codigo=27562&tit=esporte

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