quinta-feira, janeiro 22, 2009

Para a minha irmã BETINA


A lembrança que tenho dela, de pequena, é a de uma boneca loira, cabelos em cachos, vestida com um casaquinho redingote vermelho e umas botinhas da mesma cor, segurando outra boneca nas mãos. Naquele tempo ainda não tínhamos as fotos coloridas, mas a minha memória tem todas as cores.
Muito loirinha, muito mimosa e os cachinhos descendo pelas costas.
Um dia sujou-se toda até os cabelos e a mãe teve que cortar. Choramos todos ao ver os cachinhos no chão. Pareciam de um anjo.
Mas não ficou menos bonita por isso.


A quinta dos filhos, a terceira das meninas. Antes éramos eu e a Mara e os guris, Ricardo e Zeca.

Depois dela vieram o Sérgio e o Maurício.
Nasceu em Cachoeira do Sul e cresceu como todos nós, na granja prá onde nos mudamos quando ainda era pequenina, em Domingos Petrolini. Gastava o seu tempo brincando livre pelo campo, subindo em árvores, ajudando na horta da família depois da escola, fazendo comidinhas de boneca, brincando de casinha e de circo, defendendo os amigos, quando os achava injustiçados.
Históricas amizades. Detalhes que a gente não esquece.
Os filhos da dona Jorgina eram protegidos com unhas e dentes. A Eva é a de quem mais lembro. Depois de moça e de já ter casado uma primeira vez com o Graciolino, largou tudo prá ficar com o com o primo, filho da dona Deolinda e do seu Chico, selando uma paixão que ninguém conseguiu controlar e que já vinha desde pequena. Uma história que podia dar um conto ou até um livro. Por ela e pelos irmãos pequenos dela a Betina saltava às orelhas, cabelos e o que fosse preciso, para mantê-los a salvo contra qualquer discriminação, que à época era ainda muito mais acentuada, por serem negros e por serem pobres. Viviam numa casinha muito pequenininha, perto da nossa, e de onde a gente saía sempre com cheiro da fumaça do fogão à lenha, que funcionava o dia inteiro. Não deve ter sido uma nem duas vezes que foram fazer queixa à nossa mãe ou avisar que a Betina estava lá batendo até na sombra, em defesa dos seus protegidos. E ninguém entendia como conseguia dar conta, era franzina, magricela, mas uma leoa.
Um dia, não se sabe por que cargas d´água, brigaram feio, de não se falar. Mas não deve ter demorado muito prá fazerem as pazes, o coração muito bom não lhe deixava e ainda hoje não deixa espaço para mágoas.
Coincidência ou não, a minha melhor amiga a partir de uma certa idade e por toda a adolescência foi também uma menina negra. A Izoleiza. Hoje em dia não sei o que foi feito dela, mas tenho muita saudade daquele tempo. Sei que casou, que teve filhos e que morava lá pros lados do Herval, perto de Arroio Grande.
Graças a Deus nossos pais nos deram uma educação que passava a léguas dessas barbaridades de diferenças entre as pessoas, fosse do que fosse. Adorávamos estar com eles.
Depois veio o tempo de estudar em Pelotas, os namoricos no ônibus, os bailarecos, até que apareceu o Augusto.
Ficou comigo, em Pelotas, quando o Rodrigo nasceu e eu e o Chico fazíamos faculdade. Foi uma mãezona prá ele e até hoje têm uma grande afinidade, os dois. Empanturrava o moço de chá, esperando pelos meus intervalos das aulas lá na Faculdade Católica, prá que eu pudesse amamentá-lo e acabar com o berreiro. Ainda era solteira, podia querer ir fazer festa, passear, mas preferia ser parceira, estar ao lado, prá o que desse e viesse. Isso não tem preço.
Hoje recebe o Rodrigão e a família dele em sua casa, onde trata com o mesmo carinho a Luísa e o Francisco, os bebês do bebê que ela ajudou a criar.


Do que me lembro, a Betina não foi muito namoradeira. Aliás, foi muito pouco ou nada. A mais sossegadinha de nós as três. O Augusto deve ter sido o primeiro namorado à sério.
E com ele casou, fez noutro dia vinte e cinco anos.
Bodas de Prata, comemoradas em estilo.


Quando a Carol nasceu, ganhou uma afilhada, por quem demonstra um cuidado e um carinho extremados, como se filha dela fosse. E a recíproca é verdadeira, a Carol adora a madrinha e tem uma grande admiração por ela. São amigas e parceiras.



Quando teve o Thiago era ainda uma menininha. Mas que grande mulher e mãe é esta guria.
Dona de uma fibra e de um caráter extraordinários, é mulher de personalidade forte, decidida, atuante, inteligente e doce. E ainda vira uma leoa, quando é preciso defender os seus.
Sempre fomos muito unidas. Amigas de verdade, muito além de sermos irmãs. Temos um jeito parecido de ver as coisas, combinamos em muita coisa. Gosto de ouvir o que ela tem prá dizer. É uma pessoa sensata, equilibrada, madura. Uma pessoa em quem a gente confia cegamente e sabe que sempre poderá contar. E super divertida, com um senso de humor apurado e bom. É tão gostoso quando a gente se junta, porque a risada é garantida.
Fui muitas vezes cuidada por ela, quando estive doente, quando me acidentei, quando passei por momentos difíceis. Largava tudo e ia prá perto de mim, sem querer saber de mais nada.



Espirituosa, consegue fazer piada dos infortúnios e lidar com as situações mais complicadas, mantendo uma calma invejável.
Adora a praia, a vida, o sol, longas caminhadas diárias, conversar com as amigas, dançar, andar de bicicleta e fazer uma boa piadinha de tudo.
Tenho uma grande admiração por esta boneca crescida.
É uma mulher batalhadora, guerreira, com um enorme senso de justiça e com valores bonitos, que passou aos filhos, Thiago e Rafael.
E me deu de presente um lindo afilhado. Na verdade, dois. O Rafa, quando pequeno, não se conformava de ser só o Thiago a ter-me como dinda. E nomeou-se afilhado também. Ganhei eu, que adoro aqueles dois, assim como ao André, filho do Zeca, que também ganhei de presente.

Então a nossa irmãzinha caçula formou-se em Geografia e foi dar aulas. Grande professora, amiga dos alunos e formadora de opinião. Difícil não se apaixonar por ela.
Depois fez uma pós em Pelotas, na busca de se aperfeiçoar como profissional e como pessoa.
Hoje é diretora de uma escola em Rio Grande, para onde foi levada mais de uma vez, pelo merecimento de ter feito um excelente trabalho.
É uma profissional respeitada e reconhecida no meio educacional.
Uma pessoa que faz grande diferença no mundo.
Um ser de eleição, por quem é impossível não se tomar de amores e de uma grande amizade.
Assim é a nossa irmã Betina, que ficou sendo Betina, independente de ser Márcia Regina, desde bem pequena, quando ainda era uma bonequinha loira de cabelos dourados e cacheados.

Minha irmã, tem um grande dia, aproveita bastante junto de todas as pessoas que amas.
Que a tua vida seja uma sucessão de momentos lindos e perfeitos, do jeito que sonhas, porque se há uma pessoa no mundo que merece ser muito feliz, és tu. Que teus filhos te dêem muitas alegrias e que sejas sempre muito feliz com esta tua família linda e sorridente.
Te adoro! Obrigada por tudo! Conta comigo!
Um beijo cheio de carinho e que Deus te proteja sempre.
FELIZ ANIVERSÁRIO!
Da tua irmã que sempre será tua maior fã.

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