Essa aconteceu há dois dias.
Pois é.
Na segunda-feira, quando eu fui até a Gare do Oriente prá tomar o metro até a Marquês de Pombal e ir à Feira do Livro.
Em uma "paragem" qualquer do caminho sobe um casalzinho. Ela, que devia ser de origem cigana, era alta, bonita e tinha uns olhos muito expressivos. A guria, mesmo que se notasse um tanto largada, os cabelos meio loiro-meio-castanhos, presos acima da nuca por um grampo qualquer, a roupa muito colorida e brilhante, era mesmo bonita. Vistosa, como se diz no Brasil.
Do gajo já não se podia dizer o mesmo. Sem querer sacanear, meio desmilingüido. Seco em vida. E ainda vestia preto. Perto dela, claro, era de se supor que sumia.
Enfim, como diz a minha mãe, há gosto prá tudo. E ainda bem. Se só os bonitos tivessem vez, tava tudo lixado.
Há também os simpáticos. Mas esse, nem isso era. Digo eu.
Êta implicância!
Mas, entra o casalzinho na camioneta e, mal se vê dentro, toca a beijar e abraçar e coisa e tal. Ele encostado no ferro da camioneta, ela encostada nele, de costas, uma esfregação só. Lotação completa. O povo ali, só na torcida. Ou melhor, na torcida nada. As velhotas cheias de roupa e muito tapadas até o pescoço, cheias de correntes e brincos doirados, meio pro indignadas, meio pro desdém, mas no fundo bem a fim de estar ali, no meio da maçaroca toda.
Os velhotes, nem por isso, bem se via mais preocupados a observar os detalhes da rapariga.
De onde vejo a cena, divirto-me com os cochichos e mãos tapando a metade da cara, mãos que cutucam, cabeças que abanam com ar de reprovação...essas coisas típicas.
Vai daí que a moçoila resolve sentar-se à janela, num único lugar vago, ao lado de um velhote todo empertigado, de fato e tudo, daqueles que parecem desenho antigo. Pede licença (se é que pede) e se abanca. O feiosinho comenta qualquer coisa com um outro gajo sentado à minha frente, o outro responde e ele agradece. Não consigo ouvir a conversa (ai, que metida!)
Depois caminha até o lugar onde estão sentados a guria e o velhote. Falam qualquer coisa, ele e ela. A cena a seguir é algo a que eu nunca havia assistido.
Ela deve ter pedido pro velho levantar ou coisa que o valha, pro feiosinho sentar.
Não, eu achei que era, mas não.
Ela pede pro velho dar licença.
O velhote levanta e fica na posição de quem vai sentar de novo.
O feioso entra no vácuo do velhote e senta. Ela senta ao colo dele e o velho...ah...o velho fica morto de passado.
Eles insistem que o velhote sente de volta, no banco ao lado, os dois agora bem acomodados e encaixados, ela ao colo dele, ele com os braços enlaçados em volta dela, os dois ocupando um só assento.
Como o velho não senta, passam à cena seguinte e voltam a atracar-se aos beijos cinematográficos, daqueles de virar a cabecinha e tudo.
O velhote continua a fazer que não, tipo "eu fora", e acaba a viagem até a Gare de pezito no más, bem longe da cena, olhando lá prá fora pelo vidro da camioneta, passado até os ossos, mas com pose de que não.
O feioso se acomoda no lugar do velho e segue o baile, como se não houvesse mais ninguém dentro da camioneta. Nem te ligo.
Agora me perguntem sobre a cara do povo, ao final da cena.
Podem perguntar, que eu não digo nem sob tortura.
Mas podem imaginar à vontade.
Juro que fico meio envergonhada de dizer, mas tô rindo até agora.
A gente vê cada uma nessas camionetas...pura verdade.
2 comentários:
Caminhoneta!?
Eu bem imaginei uma caminhoneta mesmo!
Mas pelo jeito é assim que chamam o bom e velho buzão daqui!!!
hahahahahahaha
Ah...pois é!
Aqui temos as camionetas (são os nossos circulares, fazem o percurso bairro-estação centralizada-bairro),
os auto-carros (ônibus um pouquinho melhores, são os da Carris e circulam das estações centrais para o centro ou entre estações)
Os auto-carros mais chiques fazem linhas interestaduais e internacionais.
Depois ainda há os comboios, o metro (pronúncia correta, aqui, é Métro)e por aí vai.
E a gente anda em tudo isso e mais algum barco, catamaran, essas coisas. Transporte aqui não é problema.
E daí, quando vai desembatucar naquele blog? Tô no aguardo.
Beijocas grandonas.
Manhê
Postar um comentário