O Nada
O nada singra no sem fim das horas,
Está no copo de quem já bebeu,
Ficou na estrada de quem foi embora
E veste as roupas de quem já morreu!
Nas velhas casas de cacimbas puras,
O nada vive a se bater nas portas;
Na tez de um quadro que se desfigura
Tal fosse a própria natureza morta!
Deixa o remorso, repontando sonhos,
Se faz silêncio, emudecendo os homens,
O nada fere com punhais medonhos
Se está na mesa de quem sente fome!
O nada, ao certo, vive em toda a parte;
Herança velha dos que querem tudo
E pesa menos para quem reparte
O continente já sem conteúdo!
Quando se chega, se querer, se ausenta,
O nada é tudo dos que nada têm
E se rebela prá virar tormenta
Pelas taperas, sem achar ninguém!
Habita as sombras, num lugar incerto
E após a chuva vai virar estio,
O nada é um pássaro de céus desertos
Fazendo ninhos prá viver vazio!
(Rodrigo Bauer)
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