domingo, junho 13, 2010

Parcerias da Infância e pela vida afora...




Outra amiga de longa data, a Ângela Traversi, hoje Silva, é uma das parcerias que ficou pelos pagos. Aqui casou com o Veymar, tem dois filhos adoráveis, a Vanessa e o Keko e, sempre que venho ao Cassino, a gente se visita prá relembrar daqueles tempos. As nossas famílias foram vizinhas e amigas durante muitos anos, em Domingos Petrolini, uma localidade que fica a meio caminho entre Rio Grande e Pelotas. Na época eu tinha mais afinidade com a Rosana, irmã dela, que hoje vive em Israel, depois de ter morado muitos anos na Bolívia. E fui colega de aula (acho que a uma determinada altura nutri uma dessas paixonites de criança por ele) do Dadinho, o irmão delas. O pai, seu Eduardo, tinha um conjunto musical e volta e meia me chamava, mais ou menos pelo meio da apresentação, nos bailes dos clubes familiares onde tocava, para cantar músicas do Michael Jackson (uma vez já contei isto aqui no blog). Foi quem me aprimorou o gosto pela música, depois do meu pai. A mãe, dona Neusa, disso nunca vou esquecer, muito calma, dava-nos sábios conselhos e fazia uns bifes temperados com alho, que amassava e preparava junto com o sal, com as costas de uma faca muito grande, dessas de cozinha, e depois passava nos bifes antes de fritar. Aquilo tinha um gosto que ficou mesmo na memória da boca. Depois fritava batatas cuidadosamente e, no final, juntava-as todas em uma frigideira, colocando ovos batidos por cima. O feijão dela, não tem como esquecer. O arroz bem soltinho. Desconfio que ela até hoje cozinha maravilhosamente bem. A Rosana colocava o arroz no prato e, ao lado, umas colheradas de massa de tomate, que ia misturando aos poucos, saboreando tudo com muito gosto. Por uns tempos cultivei o hábito de imitá-la e não era de todo mau. Borrifávamos vinagre por cima de tudo.
Era especial a vida na casa das gurias, ali na Estação Experimental Fitotécnica de Rio Grande.
Foi onde vi pela primeira vez uma oliveira de verdade. Na época de colher as azeitonas colocavam grandes panos espalhados pelo chão, uma espécie de lona, e sacudiam as árvores, para que caíssem os frutos. Naquele tempo eu nem sonhava que um dia iria viver no país das oliveiras...
A Ângela, que tem alguns cinco anitos a mais do que nós, logo começou a namorar. A gente, eu e a Rosana, umas gasguitas verdadeiras, não tínhamos nem autorização e nem candidatos disponíveis, portanto ficávamos espionando os movimentos da irmã mais velha, tentando saber o que se passava na sala, onde ficavam a mãe e o casal. Mandávam-nos dormir, mas a gente, em pijamas e meias, espiava. E ríamos um monte de tudo aquilo.
Quando fomos estudar em Pelotas, aí sim, logo foi tempo de conhecermos uns guris novos, de fora de Petrolini. Era uma emoção sem tamanho passarmos horas a fio a trocar confidências, ora junto ao portão do condomínio onde ela morava, ora junto à porteira da granja dos meus pais, que era uma das únicas que ficava dentro da vila, em frente à estação do trem que nos levava até Pelotas, muito cedo da manhã, prá estudar. Depois deixamos de ir de trem, o seu Eduardo nos levava no ônibus da Experimental, amarelo ovo, com um nariz muito grande, do tipo daqueles que que se vê nos filmes americanos (isso também já contei aqui). Quando acabaram as viagens no narigudo, começamos a viajar no ônibus da linha, mas para isso tínhamos que ir até a faixa, que ficava a alguns três quilômetros de casa. Nestes tempos levantávamos às quatro e meia da manhã e os invernos eram extremamente rigorosos prá nós. Meu pai ia com a gente, depois de preparar nosso café e fazer-nos comer um ovo quente. Acompanhava a gente até passarmos o caminho de mato. Ainda era escuro e pisávamos a geada com sapatos de borracha. Dali íamos sozinhos, pelo campo aberto, ele a cuidar-nos de longe e a acenar até já não conseguirmos vê-lo. Encontrávamo-nos todos na parada do ônibus, os que estudavam em Pelotas e aquilo era uma alegria. O pai voltava prá lida da granja, tinha uma grande horta e muitos animais para tratar. E ainda cozinhava, porque minha mãe trabalhava em três turnos, em escolas das redondezas. Eram tempos de luta, nada era conseguido de maneira fácil, mas gostávamos da nossa vidinha do jeito que era.
Crescemos e a Rosana virou uma moça bonita, a pele muito morena e umas pernas de parar o trânsito. Destacava-se no meio das gurias na escola e vivia recebendo bilhetinhos dos guris apaixonados. Eu era magrela e tinha umas pernas muito finas, odiava usar umas saias pregueadas de tecido xadrêz à escocesa, que a mãe mandava fazer na Sessé, amiga e costureira de mão cheia lá de Petrolini. As meias até os joelhos, coloridas e combinando com as cores da saia ou do twin set, que a minha mãe se dava ao trabalho de tecer, com agulhas e lã muito fininhas, eram da Lolypop e lembro que a minha irmã Mara tinha coleções delas. Usávamos com mocassins comprados no Uruguai e fabricados na Argentina, à mão. Uma beleza, eu amava aqueles sapatos, os mocassins porteños.
Algum tempo depois, a Rosana e eu acabamos namorando dois irmãos em Pelotas, o Fleuby e o Cleubi (Maninho), filhos do saudoso Chico Antunes e da dona Sônia. A minha amiga casou, teve três filhos lindos, a Michele, o Alexandre e a Carol. Eu e o Maninho tomamos rumos diferente. Ele foi para os Estados Unidos num programa do AFS e, quando voltamos a nos encontrar, eu já estava casada com o Chico e grávida, esperando o Rodrigo. Somos grandes amigos até hoje. Ele mora no Laranjal, casou, tem uma filha, separou e tem uma nova companheira. A Rosana e o Fleuby viveram algum tempo na Bolívia, separaram e hoje cada um tem o seu companheiro. Ele vive em Goiânia, onde também moram a Michele e a Carol, com a nova família (teve mais dois filhos) e ela em Israel, com o Zvi.
O seu Eduardo, grande perda, já não está entre nós, como meu pai e o seu Chico Antunes. O Dadinho mora em Rio Grande, com a família, e também já tem netos, como eu. A dona Neusa vive perto dele e parece que prá ela os anos não passam, tá cada vez mais nova.
A dona Sônia, mãe do Maninho, ainda mora em Pelotas e fui visitá-la algumas vezes. Sempre muito carinhosa comigo, é uma amiga especial que fiz pela vida.
À sua maneira, todos parecem felizes, graças a Deus.

Ontem passamos uma bela tarde aqui na casa da mãe, eu, a Ângela, o Ricardo e mais tarde, a Betina e o Augusto, a lembrar das coisas bonitas da nossa vida. A mãe fica toda emocionada, revivendo tudo. O Sérgio escuta tudo muito atento, era pequenininho ainda quando saiu de Petrolini.
Hoje já não há mais muita gente da nossa época por lá e Domingos Petrolini já não tem a mesma vida intensa de outros tempos. Como diz a Ângela, no nosso tempo é que aquilo era bom, né dona Helena!

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