terça-feira, junho 15, 2010

Conversas de viagem

- Ô vovó Lolô, como é que o ônibus sabe que a gente vai prá Santiago?
- O moço que tá dirigindo sabe, Luísa.
- Mas cadê o moço, que eu não tô vendo?
- Ali, depois da portinha.
- Mas por que ele fecha a portinha?
- É porque ele não pode conversar enquanto dirige, senão se atrapalha e pode bater. Tem que ficar olhando a estrada, muito atento.
- Mas o papai conversa quando dirige. E não tem nenhuma portinha lá no carro.

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- O que tá fazendo, Francisco? (ele com o nariz colado à vidraça da janela, olhando a noite lá fora)
- Olhando as árvores. Tem um monte de árvores lá fora. E não é de dia - responde muito sério, enfiado dentro de uma jaqueta de couro marrom, que os dois dizem ser de motoqueiro, uma calça xadrez cheia de bolsos, as meias às riscas verde e brancas do Sporting de Portugal e o tênis do Ben 10, que ele não tira nem por decreto, a não ser prá dormir.


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- Vovó, que cidade é esta? Já é Santiago?
- Não ainda, aqui é São Pedro do Sul.

- SÃO-PREDO-DO-SUL? Mas que cidade é essa, que eu ainda não conheci.
- É São Pedro, pertinho de Santa Maria. A vovó já trabalhou aqui, na Caixa Federal.
- Mas ainda falta muito prá chegar em Santiago?
- Falta um pouco, mas logo a gente chega.
- Ah...então eu quero guaraná.


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- Vovó, eu queo fazer xixi lá no vaso do ônibus.
- Tá bem, Francisco. Luísa, cuida aqui que a vovó já vem.
- Tem um vaso muito grande, vovó. E onde é a descarga?
- Que?
- A descarga, vovó. Tem que dar descarga.
Encontro no chão uma alavanca e pressiono com o pé. Era da pia, começa a jorrar água até fechar sozinha. A da esquerda, sim. Faz um barulho enorme e o Mano se assusta.

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