sexta-feira, abril 04, 2008

Cenas de camionetas...





Estas, então...são todos os dias.
A última de que me lembro aconteceu anteontem.
Quarta foi mesmo o dia...

Perto de Sacavém, entra na camioneta uma senhora muito gorda, de uns sessenta e tal anos, apoiada em uma bengala. Senta-se no primeiro lugar vago , naqueles assentos reservados aos idosos, às grávidas e aos cidadãos com deficiências. De costas, que aqui alguns dos bancos ficam mesmo de costas para a direção em que se vai. Mas o povo, em geral, não gosta de sentar-se neles. Têm algo contra a coisa do sentar-se de costas. Portanto, ela resmunga, mas acaba por ocupar o banco e meio necessários.
Esteve ali quieta por alguns instantes e, assim que se viu ambientada, começou uma conversa em voz alta, ora falando com um, ora com outro, à volta. Lá pelas tantas, viu sentada lá atrás uma conhecida de nome Rosa. Pelo jeito não se viam há algum tempo. Então, a uns bons passos de distância, alto e bom tom, entabularam uma bela conversa de comadres, que todos os que estavam na camioneta tiveram a oportunidade de ouvir.
Um senhor, à minha frente, era indignado.
E a coisa ia por aí...
- conta-me lá, ó Rosa, o que é que andas a fazer por esses lados?
- Ah...pois vim ter com o meu namorado.
- E fazes muito bem! Direitos iguais!
A outra não ouve...
- Não percebi...
- Direitos iguais!
O velho sentado à minha frente, já botava a mãozinha assim, por cima do nariz, a tapar o olho esquerdo, como quem conta um segredo, e me confidenciava, muito íntimo.
- Hum! Direitos iguais. Agora é assim. É o que elas querem.
- Assim é que acabam por divulgar a vida à toda a gente. Pouca vergonha.
E o papo rolando, meio em tom debochado.
- Mas a sério, diz-me lá, ó Rosa, que tô cá em pulgas por saber o que andas a fazer prá esses lados?
A outra respondeu, mas não pude entender, porque o velho já me confidenciava mais alguma coisa, entre dentes. E a moça sentada do meu lado ria-se timidamente, como quem comete um delito, só de cantinho de boca. Depois punha-se séria de novo, já recomposta, como se não fosse com ela.
E eu a divertir-me com a cena, já dava boas risadas.
Sai alguém e sobra um lugar de frente, a velha se muda de lado, quase caindo por cima da moça que está ali sentada e prá quem acaba por sobrar só meio banco.
A Rosa, lá de trás, reclama que agora ela está de costas prá ela.
- Sabes que não gosto de andar de costas. Sentei-me ali porque não havia mais lugar. Foi só prá ver-te, se calhar.
O velho ri e resmunga qualquer coisa maldosa.
Um aminão (moreno) lá atrás atende ao telemóvel e começa a falar aos gritos. É o costume. O velho não me deixa ouvir, de novo, porque fica imitando o gajo, fazendo caras e bocas.
- Tô.
- Na camioneta, pá!
- Anda a preparar-me o jantar, que já tô a chegar, ó Maria! Faz-me uns bifes.
-Uns bifes!
-Táis surda, pá?
Não posso com aquilo. O velho é enfiado mesmo. Um pentelho. E se diverte à brava.
Aperto a campainha prá descer na Badela e saio da camioneta a rir-me sozinha, deixando prá trás as conversas todas e o velho debochado.
Cada uma...difícil ficar sério.
Não sei como o povo consegue.

5 comentários:

C L Barp disse...

Navegando pelos blogs "cá da terrinha" de Santiago, aqui estou. Muito boa a história da camioneta - aqui deve ser micro-onibus, imagino - mas o que me impressionou foram as fotos da ponte sobre o Tejo, deve ser uma maravilha contempla-la ao vivo(quantos km tem? e a altura?) e esse rio então parece mar... muito bonito!
Se me permitires, gostaria de continuar visitando teu blog. Grande abraço!
Celso L Barp

FROILAM DE OLIVEIRA disse...

Gostei! As mudanças de conteúdos, geralmente, exigem mudanças formais. Teu blog está perfeito, com a assiduidade que exige um visitante assíduo como eu.
Bjos

helo flores disse...

Oi, Celso!
Fico feliz que estejas acompanhando o blog. E lisongeada, com certeza.
Pois é, a ponte Vasco da Gama tem 17,2km de comprimento, sendo que 10km sobre o estuário do rio Tejo e o restante nas cabeceiras. É a mais extensa da Europa e a quarta maior do mundo, se não me engano. Acho que na parte mais alta, tem 148 metros (altura). Mas não é a única sobre o Tejo. Há também a Ponte 25 de Abril, que é mais antiga. Esta (Vasco da Gama) foi inaugurada em 1998, por ocasião da Expo98. Daqui de casa vejo, fica mesmo bem perto daqui.
O rio Tejo realmente é muito lindo e é enorme. Ele, na verdade, acaba aqui em Lisboa, quando deságua no mar. Mas nasce na Espanha, na Serra de Albarracín, onde se chama Tajo. Forma a segunda maior Bacia hidrográfica da Península Ibérica.
Ora, ora, pelo amor de Deus, fica a vontade prá visitar o blog, sim.
É com muito gosto.
Super abraço!
Prá toda a família.
Beijão.
Helô

helo flores disse...

Ah...Celso, e camioneta é ônibus mesmo, que faz a linha bairro-centro.
hehe...

helo flores disse...

Oi, Froilam!
Fico super contente, de verdade, pelo teu comentário e por te saber um leitor assíduo.
É algo meio sem compromisso, o que fazemos num blog, mas a verdade é que retrata bem a nossa postura e acho que o estado de espírito. Se calhar, foi por isso que dei uma mexida. Mas não foi muito, né?
Valeu!
Grande abraço!
Helô