sexta-feira, abril 04, 2008

Artistas de Rua

Tive muita pena de não ter a câmera comigo.
Preciso aprender que ela é um instrumento vital e carregar sempre. Prá isso comprei aquela mochila.

Foi numa dessas quartas ou sextas das minhas folgas, quando resolvo andar sem rumo por Lisboa, prá conhecer cada dia mais um pouco. O Arsénio diz que eu ainda acabo conhecendo mais a cidade do que ele, que nasceu aqui. Também não exagera, né...

A Rua Augusta, ali na Baixa, tem sempre muita gente. Turistas andam aos bandos, como em toda a grande capital. Por isso, de quando em quando, encontra-se alguns artistas de rua, fazendo o seu pequeno show e arrecadando uns trocados para a estadia. Uma vez até sonhei fazer isso. E assinamos o projeto, como promessa, num desses guardanapos de restaurante. Eu, o Rica Freire, a Ângela Gomes e acho que o Marcelinho Schmidt, lá em Santa Maria. Que íamos correr mundo, a fazer isso.
Bem, um dia ainda pode ser... não esqueci.

Mas naquele dia eu nem tinha o propósito de parar, não fosse a melodia, tão diferente e palpitante. Fui ficando e ouvindo. Eu e mais um monte de gente. Assim, de um jeito meio magnetizado, como hipnotizados ou qualquer coisa por aí.
Não sei explicar, portanto, não me perguntem, mas eu não consegui me conter, a determinada altura. Eram artistas da melhor qualidade, com uma sensibilidade que se espalhava pelo ar, pelas notas, pelos olhares e ouvidos. As pessoas começaram a sentar-se ao chão e cada um, internamente, parecia fazer a sua catarse.
E eu engasgada, engasgada, pensando, vendo um filme.
Vi o meu sentimento de imigrante num país de outra cultura, onde é preciso estar atento e forte prá sobreviver a uma certa melancolia que às vezes se instala. Vi os outros, à minha volta, num sentimento igual, cada um com os seus registros e reflexões. Depois de um tempo fui perceber que todos pareciam forasteiros em Portugal. Por isso estavam ali. Pensei em muito mais coisas.
A música tem esse poder. Iguala a todos, mistura mundos e sentimentos.
Desde que estou aqui, posso dizer com muita verdade, que foi um dos momentos mais bonitos e mágicos por que passei, fora do meu ambiente normal, com as pessoas da família do Arsénio e com ele.
Como disse, tive muita pena de não tê-lo registrado em fotos.
Mas ficou na memória da retina e do coração.
Eram quatro pessoas a tocar.
Um rapaz de uns 30 anos, uma moça de uns vinte e tal, um senhor de uns 40 e um menino, que não devia ter 20 anos. Uma gaita, um violino, um sax e algo que parecia ser um banjo. E o grupo tinha ares do leste europeu. Nos rostos, nos ritmos e na perfeição da melodia.
Momento mágico.
Inesquecível.
Só consegui seguir caminho depois que eles pararam de tocar. E de ter aplaudido muito.

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