segunda-feira, julho 30, 2007

Fim de semana...e as memórias...




E o final de semana foi de temperaturas baixas e muito calor no coração.
Em Santiago, com os netinhos queridos e com os filhotes, matando um pouquinho da saudade, sempre enorme.
Tempo de abraçar amigos, festejar aniversários de pessoas que moram em nosso coração.
Dias movimentados.
Menos mal, o frio foi aquilo tudo que a gente não via nem sentia, há anos. Muita roupa, muitas meias, umas por cima das outras, botas compridas.
Nossa, a gente quase nem consegue se mexer!
Muito fogo na lareira, chocolate quente, pipocas e um gole de vinho, de vez em quando, à volta do fogo, prá aquecer as conversas intermináveis com os amigos e a família.
De manhã, geada, deixando tudo branquinho... a grama estalando sob os nossos pés.
E os desenhos da memória da infância, em Domingos Petrolini.
O pai fazendo o ovo quente prá gente comer antes de sair prá tomar o ônibus (precisa não, pai...não precisa). A gente acabava comendo e até hoje lembro exatamente o gosto...diferente e especial. O café com leite quentinho (sem nata, que essa era pro pão caseiro batido, que ele sabia fazer como ninguém). A manteiga derretendo por cima do pão e o frio, medonho, lá fora. A gente deslizando por cima da geada, como se aquilo fosse a coisa mais linda de se fazer. Rindo! Cachecol de lã todo colorido, que a mãe tecia até de olhos fechados (como a tecer os sonhos que ela via prá nossa vida. Cheia de cuidados, a minha mãe. Tecia de coragem e otimismo o nosso coração). E a gente se achando maravilhosa no meio daquela estrada fria e cheia de geada, atalhando pelos campos, tropeçando nos galhos, em plena madrugada de inverno, no sul do sul do Brasil. A caminhada longa e apressada, de quase três quilômetros até a "faixa", o caminho escuro como o breu, iluminado pelos restos de lua e a lanterna do pai. Eu fechando os olhos, ouvindo o barulho dos sapatos quebrando a geada e sonhando com a cama, quentinha e fofa, lá em casa. O pai deixando a gente na parada do ônibus e depois voltando prá casa, já sem precisar acender a lanterna, porque o dia já se fazia claro. Eu, a guardar aquela imagem, até que ele sumisse ao longe, o meu pai. Tão bonito e tão bom que era o meu pai.
Depois encontrar os colegas no ônibus. As gurias todas apaixonadas por aquele guri loiro, de olhos azuis e cabelo muito liso, comprido, que vinha de Rio Grande prá estudar em Pelotas, como a gente, e que ficou sendo sempre só amigo, como de resto todos éramos, a turma do ônibus da seis e meia. Os pirulitos de morango, a fome da volta, mais três quilômetros, o sol queimando a cara, o calor da caminhada e a gente debulhando os cachecóis, mantas, casacos...um monte de coisas prá carregar e mais a pasta.
Enfim, o feijão com arroz e a carne de panela, que se desmanchavam na boca, quase uma e meia da tarde, deixados à beira, no fogão de lenha, pela mãe, que já tinha ido prá escola, trabalhar. A sobremesa era sempre sagú, banana caramelada com gemada e merengue por cima ou arroz de leite. Umas vezes era arroz com pêssego (e eu adorava). Noutras, goiabada, daquelas de caixa de madeira, quando a mãe não achava a pessegada de Pelotas, que sempre foi o doce preferido dela, depois do doce de laranja cristalizada.
Até hoje não sou capaz de entender como a mãe conseguia fazer tudo aquilo, cuidar de nós (somos sete irmãos), da nossa roupa, da casa, fazer comida, e ainda trabalhar mais dois turnos em escolas da vizinhança.
O "depois do almoço" da gente era de plantar sementes, fazer as mudas, fincar enfileiradas na terra fofa e preta, uma a uma, retinhas...sob a vigilância do pai, que nos ensinava pacientemente a tarefa. Outros tantos dias e nosso olhos a contemplar, maravilhados, as cebolas, já bem grandonas, prontas para virarem réstias bonitas e brilhantes, como tranças loiras, na mão dos adultos. As menores viravam molhos em nossas mãos pequenas. Tínhamos cada um a nossa quota de molhos por dia. E nos divertíamos em fazer cada um o mais bonito.
Brincar era depois.
E como a gente inventava...
Circos, malabaristas, trapezistas, limonada tão doce... cortinas de abrir e fechar, o bolo vendido em fatias, prá comprar chicletes depois, com o que sobrava, tirando o preço da farinha, do açúcar, dos ovos, do fermento e do tempo de forno. Trabalho, nem por isso, que era com prazer.
Eu gostava mesmo era de ficar dependurada, de cabeça prá baixo. Queria ser sempre a trapezista. Mas isso foi bem antes, tempos depois já tinha decidido ser ginasta, como a Nádia Comanecci.
Ia mudando com o tempo, acompanhando o crescimento das árvores, das flores, das cebolas e o meu próprio. Não via a hora de fazer quinze anos.
Mas de cantar sempre gostei. Até hoje. A primeira vez em que ganhei um festival de calouros, tinha uns 10 anos (ou talvez menos), ganhei um canarinho belga. É. Verdade mesmo. Um canarinho belga, com gaiola e tudo. Foi num clube do Povo Novo e a música era " Bahia...os meu olhos 'tão brilhando, meu coração palpitando, de tanta felicidade..."
Custava tão pouco ser feliz...
A vida era simples e cheia de graça.
E a gente sabia muito bem o que fazer com ela.






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