sexta-feira, julho 20, 2007

Tentando nao lembrar da tragedia...mas...

Bom, esclareco desde ja e me confesso, mais uma vez, uma mal informada nessas coisas da informatica.
Fica meio complicado escrever e depois ainda ler um texto sem os devidos acentos, sem o til, sem os cedilhas...e por ai vai... Mas estou no Mac do Gabriel e isso aqui tem um teclado que, como diria a gurizada, eh prah lah de "trash".
Va lah...tentemos.
Os acentos a gente ainda resolve com o "aga" depois, a maioria das pessoas entende que isso serve prah dar a ideia do acento, seja ele agudo ou circunflexo.
Vou tentar me explicar, mesmo dispondo dessa pouca estrutura digital (minha...hehe)

Quando estava vindo de Lisboa, no final de junho, claro que nao escapei da interminavel espera, caracteristica dos aeroportos do nosso Brasil brasileiro. Eramos muitos naquele voo que veio de Lisboa pela TAP e fez conexao em Sao Paulo, prah chegar em Porto Alegre, voando pela TAM.
Ao fim e ao cabo, como nao tinhamos mais o que fazer, nos reunimos num grupo. Todos tinhamos chegado por volta das 5 da tarde no aeroporto de Guarulhos e, prah evitar possiveis transtornos, fomos logo fazer o tal check-in. O voo era as 22hs. Nos guiches da TAM a informacao era a de que os voos estavam normais, mas que os da noite sempre tinham algum problema de atraso, em funcao de que eh o horario de maior fluxo. Mas fomos informados de que o nosso voo estava dentro do previsto. Sem problemas.
Eram 20hs quando o pessoal comecou a entrar prah sala de embarque, depois de fazer um lanche, dar uma boa pernada pelas lojas do aeroporto e tal, tomar um cafezinho aqui, outro ali...sempre estava bem mais frio do que do outro lado do oceano, que lah eh verao (e bem quente), agora.
Poderia contar detalhes e mais detalhes de gente deitada pelo chao, criancas dormindo em cima de malas, um menino com febre, o pai apavorado. Talvez ateh conte...
Foi ver isso e deu prah perceber que a nossa sorte nao seria toda aquela. O voo ia ter problemas, sim.
Durante algum tempo passaram passageiros e passageiros, jah de voos que deveriam ter saido hah muito. Foram indo embora, aliviados, depois de tanta espera.
As 22 hs avisaram pelo microfone que o voo estaria com problemas, em funcao de que o aeroporto havia fechado em Porto Alegre, por questoes de mau tempo e que deveriamos aguardar naquele local, porque a qualquer momento poderiamos ser chamados. Eram 3 da manha quando nos disseram que o voo havia sido cancelado. A esta altura jah nao se via um soh espaco vago ali no recindo de embarque. Nem nas cadeiras, nem rente as paredes, nem no chao. Qualquer minimo espaco era praticamente disputado. Por isso, ninguem ousava levantar. E por isso jah nos doia o corpo todo.
Depois de muito bate-boca e falta de explicacoes, nos mandaram realizar o desembarque e reaver nossas bagagens junto as esteiras. Ou seja, nem tinhamos embarcado, mas jah estavamos desembarcando. E nem era em Porto Alegre. E ainda nem tinhamos entrado em aviao algum.
Depois disso fomos encaminhados aos balcoes da TAM, dois pisos acima e mais uma infinidade de corredores. Lah se achava instalada a maior confusao. Alem de nao darem qualquer explicacao, ora nos colocavam numa fila, ora em outra, com conexao, sem conexao. Dona fulana prah cah, seu beltrano prah lah, vira, mexe, volta, dificil entender o que as criaturas queriam fazer com a gente.
Andavam prah lah e prah cah com uns bilhetes na mao, a chamar pessoas. Numa dessas achei o meu nome com uma delas.
Foi neste ponto que comecamos a fundar a comunidade dos "Renegados da TAM". E foi ai que ficamos sabendo um pouco de cada um.
Primeiro eramos eu, uma menina que tinha vindo da Italia, onde foi concorrer a Miss Italia, representando o sul do Brasil (a nossa Miss, tinhamos uma miss no grupo, que chique!); uma menina de Porto Alegre, que tinha vindo da Grecia, onde estava visitando a irma; outra garota de Santa Maria que, por acaso, conhecia o meu filho Gabriel e a namorada dele (agora noiva), chegando da Australia, onde tinha ido fazer intercambio, por dez meses; um rapaz que esteve jogando em Santiago de Compostela (futsal) e ia prah Frederico Westphalen ver a filhinha pequena e depois voltaria para a Italia, prah jogar num outro time; um professor da URGS, viajando a trabalho; um empresario de Lajeado, chegando da Alemanha; um paulista e, depois ainda se juntou a nos uma garota, com o filho pequeno, que tinham vindo no mesmo meu voo de Lisboa (por acaso era Gabriel o nome do menino e, por mais acaso ainda, parecem ser meus vizinhos, em Lisboa, vivem no bairro ao lado da Bobadela). Vinham visitar a familia em Porto Alegre. O marido eh professor em uma universidade em Lisboa, mas eh brasileiro tambem.
O mundo eh pequeno.
Depois de mais de hora de confusao, nos meteram em varios taxis e nos mandaram para o aeroporto de Congonhas (ai que medo!!!!!!!!!!) E foi tudo o que pagaram. Nada de hotel, nada de lanche, nada de nada. Alguns revoltados, outros furiosos. A nossa turma, talvez nao por coincidencia, era a da piada. Afinal , se iamos ter que passar a noite em Congonhas, que fosse prah cada um contar a sua historia e as suas experiencias, vividas nos paises de onde vinham. E assim ficou combinado.
O aeroporto de Congonhas fecha a noite. E soh abre novamente as 5 e meia da manha. Mas dah prah gente ficar por ali, dormindo sentado pelos bancos, ou de peh... Felizmente tinha um cafeh aberto. Fizemos uma mesa grande e encostamos os carrinhos das bagagens. A partir dai, eramos um por todos e todos por um.
Trocamos e-mails, vimos fotos de familia, contamos historias, demos muitas e boas risadas e olhamos o "book" da nossa miss. E o Gabrielzinho ali, firme, acompanhando a turma. Querido ele, um guri super esperto.
As 6 da manha, soh por desaforo, resolvemos todos comer um Xis Picanha, prah comemorar o nosso encontro porque, afinal, nao fossem os problemas do voo, a gente nunca teria travado amizade. Afinal, chegamos a conclusao que isso tinha que ser comemorado. Alem, eh claro, de selarmos a criacao da tal comunidade no orkut (por sinal, acho que ainda nao saiu. As fotos estavam comigo...hehe...tenho que passa-las aos demais...)
O Xis demorou uma eternidade. _A "chapa" tah esquentando - dizia a mocinha da lanchonete. Um dos nossos resolveu comemorar a grande. Buscou umas cervejinhas e logo arranjou parceria dos outros guris. A gente soh queria um suco bem fresquinho.
Comemos, bebemos os nossos sucos e cervejas e o aeroporto enfim abriu.
Fomos fazer de novo o check-in.
Nossa!!!!!
Soh que a esta altura, prah nosso desespero, tinha comecado a chover a baldes em Sao Paulo. E eh claro que o aeroporto tambem acabou fechando. Porto Alegre estava aberto, mas lah nao.
Lembro de ainda ter dito:
_Nao interessa, se tiver agua na pista, a gente varre, soh queremos eh ir embora.
E todo mundo concordou.
E a chuva lah fora, caindo a pingos valentes.
A miss perdeu a pose...tadinha, ainda a fotografamos dormindo por cima das malas. Tinha perdido a festa em Caxias, onde o pessoal estava esperando com todo o barulho, tinha ficado entre as 5 finalistas na Italia. Depois ainda inventamos que a foto "babando" a gente nao publicava, nem nada. Judiaria...
Ela, na ingenuidade dos seus 17 anos (se bem me lembro, foi o que disse ter), implorando prah gente nao fazer aquilo...(a pobrezinha dormia bonito e tudo, parecia um anjo).
Passaram-se duas, tres, jah nem sei quantas horas. E nada. Ninguem nos chamava e nem tampouco nos dava conta do tal voo que tinham nos arranjado, as 10 da manha do jah do outro dia. Volta e meia juntavamos dois ou tres e iamos ateh o guiche, fazer "pressao". Mas nem nos davam bola.
Quando foram 10 e meia, fomos prah frente do nosso suposto portao de embarque e decidimos trancar a passagem. Um lah no meio disse que por ali mais ninguem passava...Brinquei de novo: _Isso!!! E o povo levou a serio. A esta altura jah eramos muitos mais. E briguentos! Lembro de ter falado a um dos guris da turma (ele tinha contado prah gente que era muito metodico e nao aceitava situacoes que lhe fugiam ao controle e que era super estressado), que ele tava muito quietinho, pro meu gosto. Brinquei, mas ele tambem levou a serio. Quando vi, estava lah no balcao, aos murros, exigindo a presenca de um dos chefes da companhia, em frente a dois funcionarios muito assustados e de olhos arregalados.
Gente, uma coisa tem que ser dita: Sou completamente a favor da renovacao nas empresas, de oxigenar e tudo, de dar chance aos jovens e tal, mas Deus do Ceu, aquelas criancas que trabalham na TAM quase podem ser os netos da gente...nao tem o menos poder de decisao, sao pagos prah dizer as pessoas que tem que aguardar em seus lugares, que nao tem previsao, que nao podem informar nada de nada e nada mais. Como uns robos. Totalmente despreparados...(o comandante do tapete vermelho bem hah de estar se revirando no tumulo...digo eu)
O pai com o filho cheio de febre foi tentar ser atendido antes, encaminhado por nos, inclusive, que lhe demos a vez. Mandaram-no ficar quieto no seu canto e esperar. E o menino com 40 graus de febre, chorava em cima da bagagem, no carrinho, tentando se ajeitar o corpo todo doido, pobrezinho. Em cima de outra bagagem e a escorregar pro chao, dormiam duas criancas japonesas. O menino tinha cara de gente grande, gozada que era...mimoso... devia ter uns 8 anos.
Quando o tumulto se fez, gritando do jeito que a gente gritava, porque a massa quando se resolve, ninguem contem, nao teve homem prah resolver. Ouviu-se uma voz feminina e decidida de uma comissaria/atendente: _Chega! Nesse momento estou embarcando voces!!!!
Por aqui, por favor...
E tudo se calou.
Tenho prah mim que nos tiraram dali porque jah estavamos a tumultuar o aeroporto todo.
Jah nao tinhamos sono, nem nada. Soh uma moleza sem fim.
E passamos por aquela porta e caminhamos em direcao ao onibus que nos levou ateh a aeronave.
Nao vao acreditar...TINHA UM TAPETE VERMELHO e tudo!
Soh que ficamos parados lah dentro exatamente 1 hora. Se nao foi mais.
Bem feito...hehehe
Uma mulher que parecia ser de origem italiana comecou a discursar que tinha feito uma fiscalizacao no banheiro e que aquilo estava um nojo. Que ela jah era ressabiada com banheiros de onibus e tal...mal entrou no aviao, foi fiscalizar e nao deu outra...
O povo caiu na risada (menos mal, nos, brasileiros temos isso, rimos ateh da desgraca).
A tripulacao tinha cara amarrada. Nao sei se assustados conosco, nao sei se a contragosto, pareciam terem sido chamados as pressas. Foram chegando com as suas malinhas. Tive a sensacao de que nem as tinham bem fechadas, em funcao da correria toda.
E pela primeira vez, desde que viajo de aviao, comecei a sentir uma pontinha de receio pelo destino daquele nosso voo, palavra...

Mas , como era prah ser, correu tudo bem e chegamos ao Salgado Filho saos e salvos, por volta das 2 da tarde.
O meu irmao, vindo de Rio Grande com toda aquela chuva e nevoeiro, estava a minha espera no aeroporto desde a noite anterior, coitado. Tinha medo de sair e o aviao chegar. Dali seguimos para a praia do Cassino, onde vive a minha mae, felizmente tinha conseguido chegar a tempo para comemorar com ela o seu aniversario.

Enfim, pode se dizer, um final feliz.

E eu contei tudo isso, prah concluir que, ainda assim, mesmo que a gente tenha ficado mais de 18 horas a espera ( e muitos ficam muito mais e, as vezes, nem conseguem viajar), zanzando e vendo todo o tipo de coisas que acontecem pelos aeroportos desse nosso Brasil, mesmo chocados, revoltados com a falta de respeito, com o pouco caso que fazem de seus clientes as companhias de aviacao e, enfim, todo um sistema de coisas... ainda assim, estamos aqui, contando, relatando, podendo falar sobre a nossa experiencia. E mais do que tudo, nos sentindo felizes por estarmos vivos!
Porque alguem, por mais que isso tenha nos irritado e nos atrasado a chegada ao nosso destino, teve o bom senso de nao autorizar decolagens ou aterrisagens em condicoes completamente improprias para tal. Abencoado seja.
Jah andamos assim, agradecendo o obvio.
Onde fomos parar, meu Deus!

Alguns dias depois assistimos a essa tragedia, que a cada dia chega mais perto de nos. Ontem no meio da mata, agora em plena chegada, quando as pessoas jah se preparavam para botar o peh no chao. Algumas podiam estar passando um batom, outros alinhavam o cabelo, para ficarem mais bonitos; uns vestiam os seus casacos, outros podiam ter pressa, decisoes importantes a tomar, negocios para efetivar... nao se sabe, com certeza haviam de ter planos e um mundo de sonhos. Que pararam ali, naquele exato momento, sem que ninguem pudesse impedir o curso da desgraca. Da forma mais horrorosa possivel.
E que deixam muita saudade, dor e sofrimento.

E alguns ainda hao de dizer que aquilo que eh pra ser, tem muita forca.

Cah prah nos, nao precisava ser assim. Chega de amadorismo.
Tragedias, sob hipotese alguma, podem virar rotina, obras do acaso, fatalidades.

Em respeito as pessoas que estavam no voo 3054 da TAM. Entre eles, o irmao dos amigos de meus filhos, daqui de Santa Maria. Um menino cheio de sonhos e de planos, que teve cortada a possibilidade de, com sua alegria e vontade de viver, com o seu entusiasmo e energia maravilhosos, fazer a diferenca nesse nosso mundo, como tantos outros que ali estavam.
Que Deus te receba, Richard!
E que Ele continue olhando por todos nos, que precisamos cada vez mais da Sua protecao.




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