domingo, maio 15, 2011

Livro descartável?

Nunca havia lido nada de Stephen King, confesso.
Noutro dia, numa feira de livros, dessas que acontecem vez por outra na Gare do Oriente, dei com este: Escrever - Memórias de um ofício. Achei o título interessante. E comprei-o por seis euros e noventa.
Os livros aqui são normalmente caros. Acho mais caros do que no Brasil. Por sorte há estas feiras, onde encontramos variedade e bom preço.
Comecei a lê-lo junto com mais três. De um já falei aqui - O Velho Expresso da Patagônia. Outro também fala de viagem - Pedalar Devagar - Quatro anos de bicicleta pela Ásia. E há mais um livro de bolso, em inglês, da Catherine Cookson - The Simple Soul and other histories (tentativa de me familiarizar com a língua, o que não é nada fácil quando, em termos de outras línguas que não a materna, só consigo raciocinar em espanhol).
Tenho cá este vício, o de abrir várias frentes ao mesmo tempo, quando leio. Um pouco pelo dispersiva que sou. Devo ter a síndrome aquela da falta de concentração. Outro pouco (bastante) pelo fato de ter paranóia a rotinas. Mas isto também acaba sendo rotina. Como a de acordar todos os dias, religiosamente, antes das sete da manhã, seja dia de semana, sábado, domingo, feriado ou dia santo. Como se tivesse um despertador instalado dentro do cérebro. Um do tipo que nunca estraga, perfeito. E que já me dura uma vida, impecável. Quisesse comprar, não haveria de ter à venda.
Pois o livro do Stephen King me veio descartável. Cada folha lida destaca-se automaticamente do resto e se retira, como se cumpridos destino e missão. Melhor falar assim, de forma poética. Dava prá dizer também que se trata de um livro moderno, reciclável. Lido, serve para inúmeras outras coisas que não só acomodar-se em uma prateleira e descansar através dos tempos, até que alguém se lembre de lhe por a mão e os olhos. Folhas destacáveis? Também pode ser. Um bom livro para se levar em viagens. Com sorte, ao final chega-se apenas com a capa. Ou nem isso. A lo mejor, soluciona o problema de excesso de peso na bagagem. Mas é um livro!
Fosse uma pessoa sensata, reclamava? Levava de volta, talvez. Pedia a devolução do dinheiro pago. Mas eu achei o máximo. Estou longe de ser sensata, credo! Até me rendeu estas linhas e tudo. Se calhar, faz parte da estratégia de sugerir como se processa o ato de escrever. E nem vou dizer aqui que, pelo preço pago, era de se esperar, não vou, que não costumo justificar uma coisa com a outra e este hábito até me enerva.
Vou na página 53. E de um total de 256, já me restam 203. Corrijam-me os matemáticos, porque a esta aula faltei (e a muitas outras) É inclusive ou exclusive?
Não sei e nem me interessa. Esqueçam.
Fico com o livro.
O que me importa verdadeiramente nele: para escrever há que se ter uma necessidade irresistível e esta necessidade pode trazer alguém de volta à vida, como foi o caso do autor, que o escreveu em 1999, durante um período complicado de recuperação por um grave acidente sofrido.
E encerrando, uma observação que acho de vital importância: " Se não tem tempo para ler, não tem tempo nem ferramentas para escrever." Stephen King

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