quarta-feira, abril 13, 2011

Da saudade e dos sonhos

Um dia, assim do nada, começamos a ter saudade de nós mesmos. E às vezes é uma saudade tão grande e tão profunda, que precisamos parar, ver o que andamos fazendo, fazer-nos umas tantas perguntas, tentar algumas respostas e retomar o caminho, ou rever tudo. E começar do zero, se for este o caso. Força de expressão, claro, que do zero ninguém começa, depois de ter vivido e vivido e nunca estar cansado de viver. Leva-se os registros vida afora. E há sempre algum sonho escondido, à espreita, à espera. Uma qualquer coisa que não se fez. Uma ânsia, uma vontade, algum desejo que guardamos prá um dia qualquer, depois de termos feito tudo o que era supostamente preciso, mas que um belo dia aflora e vem tal uma raíz que, ao procurar a luz, dá por si a rebentar as pedras da calçada. Neste momento, e já de uns tempos prá cá, ando a rever sonhos. Ando a minhocar. Voltada prá dentro, a espreitar o interior, como quem revisita a casa onde viveu na infância, a buscar os cantos preferidos, a caixinha dos botões que viravam gentes, móveis, carros. Lugares de sonhar histórias, como se fôssemos deuses a movimentar os cordéis de todos os mundos que inventávamos. Uma vez pensava que o mundo era isso: um brinquedo de Deus. E nós os bonecos, as cidadezinhas minúsculas, sujeitos às suas vontades. Depois cresci. E era suposto entender tudo de outra forma, mas devo ter vindo até aqui por algum caminho torto. De um jeito curiosamente normal, a fantasia continua lá. E os sonhos se multiplicando em raízes de puro viço, a rebentar as ruas do meu caminho. Que pode até ser torto, não sei. Mas que tem a audácia de querer ser real. Ando resgatando sonhos, é verdade. Colada neles, a parte de mim que andava perdida em algum canto deixado prá trás. Tinha tanta saudade...

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