domingo, abril 15, 2012
Sentidos
A casa toda cheira a cera recém passada. Abro portas e janelas em busca do ar. Olho a rua através da janela. Tempo molhado e cinza. Então sinto falta das cores. Não há pássaros cantando, apenas o barulho da chuva batendo forte em tudo o que encontra. Um quadro diferente de todos os outros dias, ensolarados. A música que toca me leva a lugares distantes. Lembra futuros. Viajo em mim mesma. Sem deixar de olhar a rua, abro o vidro das balas de mel sobre o balcão e apanho uma delas. Pressiono-a entre o indicador e o polegar e concentro-me em olhá-la contra a luz que vem da rua, Tem um tom dourado, transparente, quase vítreo, que me encanta. Através dela o dia lá fora tem reflexos de verão molhado. O cheiro de mel precipita o ato que se segue. Gosto de infância sobre a língua e uma outra viagem. Lembra passados.
Tão absorta, nem percebo o silêncio dentro de mim, concentrada em detalhes quase imperceptíveis.
Levanto e subo a escada que leva até o mezzanino, então troco o disco.
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