terça-feira, fevereiro 22, 2011

Chuva

Chegava de repente e era capaz de lavar-nos inteiros.
Cabelo escorrido na chuva do verão que não era tão quente como os de agora.
A ponta da trança molhada na boca tinha um gosto bom.
Olhos brilhantes e limpos, tão limpinhos, que quase dava prá se ver a alma a mostrar-se em total inocência.
Um banho de chuva cheio de chuva boa num verão quente.
E a nossa inocência, que nem precisava de lustros , tinha cada gota a ampliar o que tínhamos de mais bonito, como quem mostra a vida através de uma lupa sem marcas de dedos.
Os pés pequeninos e descalços nas pedras da rua, as mãos a dobrar a folha de jornal em habilidosa construção, o olho no barquinho a singrar ligeiro o rio da sarjeta e a infinita magia expressa na liberdade de termos a chuva ocupada em dar-nos alegria sem reservas.
Ia embora como vinha e era sempre especial.
Marcava a infância e seguia como memória.

Choveu hoje uma chuva destas.
E desde a tardinha, ando à procura da minha inocência.

Um comentário:

Unknown disse...

Nossa Helô que coisa linda, tu fez lembrar minha infancia... tu arrasa nas tuas cronicas... valeu!