segunda-feira, agosto 09, 2010

A Argentina, Mendoza e MERCEDES, la maravillosa Negra.



Nas nossas férias, agora em julho, quando estivemos no Brasil, também fomos à Argentina com o Rodrigo, Daiane e a gurizadinha.
Adoramos tudo.
Foram uns dias de muita função e estrada. Estávamos lá justamente nos dias em que a Seleção de Maradona voltava ao país, nos braços do povo. É incrível, Maradona lá é como um Deus. Eu diria até que talvez esteja tão em conta quanto, para uma grande parte da população.
Emoção à flor da pele. Aliás, ainda não tive a oportunidade de falar aqui, mas fiquei encantada com a atitude dos argentinos. Emocionada. Eles são mesmo nacionalistas até debaixo d´água.
Aquilo sim é que foi uma festa. Não estava em causa mais ter ganho ou não a copa. Eram festejados e acarinhados pelo excelente desempenho. E acima de tudo, por serem argentinos.
O Brasil devia seguir o exemplo. E Portugal, então, nem se fala.
Em Mendoza (a oeste da Argentina), onde estivemos a maior parte do tempo, depois de viajar horas e horas naquelas estradas loooooongas e retas, descobrimos uma mina de CD´s e DVD´s a preço de uva mijona, como diz o Arsénio. Além de muitas outras coisas, como um excelente vinho, que é característico deles. Vai-se a Mendoza quase que exclusivamente por causa deles. E vale a pena.
São maravilhosos.
Mas não é o vinho a principal fonte da economia de Mendoza e sim o petróleo, segundo a guia da agência que nos levou aos passeios. Depois vem o vinho, depois o turismo e a hortifruticultura.
Fizemos um passeio guiado a duas vinícolas (bodegas), uma indústria de azeite de oliva e uma fábrica de chocolates. O vinho muito bom, mas confesso que o que não me convenceu foram as degustações, se formos comparar com o que temos na Serra Gaúcha. Ali em Bento Gonçalves, sim, é degustação a sério. Em compensação, amei as empanadas mendocinas.
Curioso é sistema de irrigação herdado dos huarpes (índios de origem maia), hoje em dia computadorizado e com irrigação por gotejamento, permitindo assim que Mendoza seja um dos principais produtores do mundo, com excelente qualidade. Porque lá não chove quase e a quantidade de sol faz com que a uva adquira um teor de açúcar que define a melhor qualidade dos vinhos. A especialidade é o Malbec. Mendoza foi considerada a oitava capital mundial do vinho, pela gwc (great wine capitals global network). Fala-se em mais de 1.200 bodegas por toda a província.
A cidade e arredores dependem totalmente da neve que cai na cordilheira durante o inverno e que, no verão, derrete, para fornecer a água utilizada pelos mendocinos. Pela cidade toda existem canais, por onde a água corre, para irrigar plantações e também para manter as árvores e plantas. Curiosamente, é uma cidade muito arborizada.
Os produtores pagam pela água que é disponibilizada em suas propriedades, para irrigação, de acordo com o tamanho e utilização.

No outro dia o passeio foi à Cordilheira dos Andes. Melhor dizer às cordilheiras, porque são três. E ali vemos uma parte delas. A Pré cordilheira e as outras duas, bem mais altas, por onde circulam rebanhos de guanacos (uma espécie de lhama, um pouco menor) e sobrevoa o altivo condor, que pode atingir alturas até de mais de 6.000 metros.
É tudo lindo. Foi um dia muito bem passado.
E havia neve, muita neve. E as crianças adoraram. Os grandes, então, penso que voltaram a ser crianças. A temperatura lá em cima, em Cuevas, fronteira com o Chile (um túnel separa os dois países), era de sete graus negativos. Não pudemos ver o Aconcágua ( 6.962 m), porque este só é visível seis dias no ano, se estou certa. E deve ser no verão, quando o céu fica limpo.

E Mendoza, como sabem, é a segunda terra de Mercedes Sosa, la Negra, e o lugar onde ela escolheu para espalhar parte de suas cinzas, após sua morte, a 4 de outubro do ano passado. A outra parte foi para Tucumán, cidade onde nasceu e se tornou a voz da América Latina. Amada e idolatrada pelos argentinos, houve tempos em que não era assim. E isto tudo ela conta, no livro de Rodolfo Braceli, em biografia ditada por ela: MERCEDES SOSA, LA NEGRA (Sudamericana -2003). Comprei e li o livro em um dia e meio, enquanto íamos em nossos passeios. Comi o livro, era melhor dizer. E já o li de novo, depois de chegar aqui em Lisboa. É que ela conta tudo de forma tão simples, verdadeira e emocionada, que somos capazes de nos encontrar no mesmo cenário, em coincidências e identificações, porque ela o faz assim: uma biografia em voz alta, incluindo relatos da mãe, dos irmãos, de seu filho e de amigos.

Mas ainda não é tudo. Eu já tinha ouvido o cd duplo que foi gravado algum tempo antes, Cantora. Mas não havia encontrado aqui em Lisboa. Aquele que vem com um dvd de todas as gravações, dos momentos de estúdio, o carinho com os parceiros de tantos anos. Consegui comprar em Mendoza. Quando assisti, já aqui em Portugal, chorei muitas vezes. É algo mesmo emocionante e único. E mostra a nossa Mercedes na sua simplicidade e grandeza, o seu lado maternal ao extremo, os depoimentos dos amigos, daqueles que foram lançados ao mundo pela mão dela. É incrível. É um desfile de qualidade, sensibilidade e força. Sobretudo da qualidade de seres humanos especiais.
Tenho assistido algumas vezes. Não me canso.
E para quem é fã da Negra, fica aqui a dica. Não dá prá passar sem. É algo para se ter em casa.
Ainda consegui encontrar outras pérolas dela, em cd e dvd. Está tudo guardadinho em um lugar especial, num espaço muito especial dentro do coração e entre as coisas mais queridas que guardo comigo.

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