terça-feira, janeiro 05, 2010

Cenas tristes

Olho com muita tristeza as cenas da ponte que ruiu sobre o rio Jacuí, entre Agudo e Restinga Seca, lá no meu Rio Grande do Sul, no sul do Brasil. Uma porção de pessoas feridas, alguns desaparecidos. Havia cerca de trinta pessoas em cima ou nas redondezas da ponte no momento em que ruiu, pela força das águas do rio, que transbordou com a chuva.

Fico lembrando da nossa verdadeira odisséia prá voltarmos de Santa Maria a Santiago, em 1984, quando caiu a ponte sobre o rio Rosário e tínhamos ido fazer um concurso interno pela Caixa Federal em Santa Maria, para deixarmos de ser Escriturários Básicos. Éramos eu, a Sônia Wallau, o Jorge Lewandowski e mais um colega de Alegrete, que nos pediu carona, porque os ônibus não tinham por onde passar e a estrada ficou interditada. Tivemos que fazer uma enorme volta, saindo em uma estrada perto de São Borja, debaixo de chuva torrencial. No caminho, durante a noite, foi impossível continuar e acabamos por dormir na casa dos pais deste colega, em Alegrete, para depois continuarmos a viagem. A mãe dele serviu-nos um jantar quentinho e o pai foi quem abasteceu o nosso carro, um Corcel II verde escuro que a gente tinha na época. Era eu quem vinha dirigindo. A dada altura, já no dia seguinte, de madrugada, tínhamos que cruzar uma ponte em que o rio por debaixo bufava. Água por cima, atravessando a pista e quase formando corrente.
Paramos antes da ponte e tentamos avaliar as alternativas. Acabamos por concordar que se não passássemos ali, teríamos que voltar a Santa Maria e esperar que o problema fosse resolvido, não se sabia quando, porque não havia previsão. Perguntamos a um morador que observava o rio, ele pareceu confuso, mas deu a entender que a ponte ainda estava firme, embora o quadro fosse assustador.
Rezamos todos e o trajeto foi feito em silêncio absoluto, o coração apertado, cada um tentando dominar o pavor a seu modo, vendo a água do rio a respingar no para-brisas do carro. A força que tive que fazer para segurar o volante rendeu-me dores musculares por muitos dias, como se eu tivesse levado uma surra. Era preciso atravessar. E o tempo de atravessar durou uma eternidade. Eu só conseguia olhar prá frente, fixada em uma meta imaginária, que devia estar adiante, mas que era tapada pela chuva e pelo medo. Afinal, tivemos sorte, chegamos ao outro lado sãos, salvos e aliviados. Paramos o carro, as pernas bambas e a cabeça a mil giros, descemos todos e ficamos por uns momentos a olhar para o rio, para a ponte, para a estrada, quase sem acreditar que tínhamos conseguido vencer. Imóveis ali, debaixo de uma chuva que nunca parou de cair aos baldes, até chegarmos ao nosso destino. Lembro que nos abraçamos todos e agradecemos a Deus de forma veemente. Depois seguimos viagem, cheios de fome, sujos e cansados.
Em Santiago nos esperavam na agência da Caixa, os colegas, as famílias e alguns clientes muito preocupados.

Um susto grande, do qual nunca esqueci. Estava lá dentro, guardado em algum lugar. Hoje, ao ver este vídeo e ler sobre a tragédia, vêm-me as cenas todas, como em um filme.

Que Deus ajude a estas pessoas e que todos, de alguma forma, possam ser salvos.
Só nos resta rezar.

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Em conversa com o meu filho Rodrigo, também fico sabendo da morte do nosso querido amigo Beko, colega bancário e parceiro de muitos Torneios Internacionais do Cruzeirinho, de festas, de risadas, de bom astral, de lutas e de vida.

Já na semana passada foi a vez na dona Nair Kubiça, mãe do nosso compadre/primo Katê, pessoa tão ligada à nossa família e que sempre teve tanto carinho com a gente.

Estou mesmo triste.
Deus nos dê luz e conforto para superar e seguir.
E que Ele, em sua infinita bondade, receba estas almas e lhes dê paz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bah Heloísa, também fiquei muito triste com a partida do Beko! Lembro daquela turma nas reuniões do Cruzeiro (no clube União; no galpão crioulo que tinha ao lado do Som Pop, hj Meridional), quando eu ía com o pai, para deliberarem sobre a criação e depois das edições posteriores do torneio!
O torneio não será mais o mesmo sem essa presença!
Beijos!
Rodrigo Medeiros

Anônimo disse...
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