quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Olhando a vida e vivendo.

No caminho que me leva até a praia vou fazendo uma espécie de exercício de criação. Penso em palavras que possam expressar cada cena, depois digo em voz alta, repito, prá ver como soa. Já disse, se pensarem que sou louca, azar. Cada um com as suas loucuras, a minha é essa.
Também, porque tenho muitas mais.
Último dia do mês de janeiro, já restam só onze meses deste ano de 2012.
Cá estou, agora sentada em frente ao mar, os pés a afundar na areia morna, cabelos ao vento contidos por um chapéu de palha, um livro de crônicas na mão, na bolsa vermelha o caderno espiral, o celular, a câmera foltográfica e uma caneta sem tampa. Óculos de ver de perto e está feito o quadro.
Leio.
Ouço a voz agradável da moça do chapéu psicodélico e tiro os olhos do livro para olhá-la.
Tem nas mãos um mostruário de artesanato, onde se distribuem anéis, colares, brincos e tiaras em macramê.
A pele dela tem cor de cuia e os olhos são de um azul de doer. Pela fala, não parece ser daqui, mas não consigo decifrar de onde possa ser.
Elogio o trabalho, na verdade é tudo muito bem feito e mostra criatividade. Ela agradece com um sorriso e segue o seu rumo a deslizar pela areia, parando vez ou outra a cada novo grupo de pessoas. Não compro nada, não costumo levar *dinheiro quando vou à praia, mas bem gostaria de ter ficado com alguma das peças. Quando ela se afasta, tiro a câmera da bolsa e tento focar o chapéu. Ai, aquele chapéu que me ficou no goto, desde um dia em que vi um rapaz usando um igual, ali no centrinho da Barra. Tenho verdadeira tara por chapéus. E esta pode ser mais uma das minhas loucuras confessas. Mas o chapéu, pura verdade, é inusitado e juro que está faltando na minha coleção.
Volto ao livro.
Passa a outra moça do bolo integral, antes ainda a dos panes rellenos.
Floripa toda, de sul a norte, anda tomada por argentinos e não só. Há holandeses, ingleses, australianos, americanos, finlandeses e mais. Gringos de todos os cantos.
Ontem à noite vi a matéria no último jornal da noite, na Globo. Se a memória não falha, Santa Catarina já é o segundo destino turístico no Brasil. Só fica atrás do Rio de Janeiro. Mesmo?
E dá mesmo para ver. Na matéria mostravam a Barra da Lagoa no seu melhor e depoimentos de turistas. Bom. Possibilita a troca de idéias, integra culturas. Também é um pouco mau. Os preços por aqui, desde que iniciou o verão, triplicaram sem dó nem piedade. Quem mora o ano todo, sente a diferença.
E caminhando pelas ruas do centrinho, às vezes tenho a nítida impressão de estar em qualquer um dos países vizinhos, menos no Brasil. Menos em Santa Catarina, na Barra da Lagoa. Nos bares e em muitas das casas comerciais já somos atendidos por argentinos e uruguaios. Bom para os turistas, que acabam por sentir-se em casa e retornam a cada ano, em maior número.
O sol começa a esconder a cara e eu lembro que ali ao lado da ponte azul há o Butiquim. Impossível não ir ao pastel de queijo.
Guardo o livro, recolho a cadeira e levo a câmera a tiracolo.
No caminho, mais fotos.
O pastel é uma delícia, feito na hora. E vai bem demais com uma cerveja bem gelada.
Ave, Arsénio, soubeste escolher um dos melhores cantos da Barra. Cheers!
Está aqui um ventinho bom do caraças, a gente até fica se perguntando se merece tudo isso.
Interessante é que no caminho encontro a moça do chapéu. Sai da zona de areia com outra vendedora ambulante e há um rapaz que, pedindo para que façam a pose, bate a foto. Deppois diz:
- Diretamente de Goiânia para as praias gaúchas!

Gaúchas?
Pensei que estava em Santa Catarina.
A outra, que não é a do chapéu, caminha atrás de mim, ao sair da areia. E eu não resisto.
- Sou maluca por aquele chapéu.
Ela diz que é lindo e fala que tem prá vender.
Chego perto e olho detalhadamente o chapéu de feltro, na cabeça da moça de olhos azuis.
_ Mas o que é este chapéu, é um chapéu de que?
_ De duende. É lindo, não é?
_ Sim, sim. Vi noutro dia, um rapaz usava um igual. E fazes prá vender? Eu coleciono chapéus.
_ Claro, faço um, vendo, faço outro.
_ Eu quero, podes vender prá mim? Mas tenho que pegar amanhã, que hoje não trouxe dinheiro.
_Posso, sim, amanhã vou estar aqui pela praia. São cinquenta reais.

E fica assim acertado, quando vejo que junto com ela está o rapaz que vi noutro dia a usar o chapéu.

Sentada à mesa, no Butiquim, saboreio um dos melhores pastéis de Floripa. E fotografo um menino de uns cinco anos que joga a tarrafa ali no cais dos pescadores e que de vez em quando olha prá dentro da peixaria, conferindo se está tudo como deve ser na sua atividade de gente grande. Impressionante, mas ele tem o jeito todo, as manhas. Fico encantada.

Depois, já indo prá casa, entro na peixaria e encomendo uma tainha prá amanhã de manhã. Não é fresca, porque se está na altura do defeso. Mas tem bom aspecto e vai ser assada no forno para o almoço.

Ganho a rua com a sensação de ter visto tudo isso em um filme qualquer.
Vida a pleno, isso é o que é.
Se não for, deve andar bem perto.


* Explicando: Não costumo levar dinheiro GRANDE.

2 comentários:

Anônimo disse...

Só não entendo uma coisa. se não levaste dinheiro, como bebeste cerveja e comeste um pastel no boteco? Ai, ai, ai...

helo flores disse...

hehehe...o dinheiro do pastel é sagrado, não se gasta com outras coisas. Este levo sempre.
Da próxima vez explico melhor. Valeu, anônimo? Abraço e obrigada por prestigiar o blog.