domingo, novembro 08, 2009

NOITE DO FADO



Uma vez, logo que cheguei aqui em Lisboa, fomos a uma dessas Noites do Fado, ali no Parque das Nações, num dos pavilhões da FIL - Feira Internacional de Lisboa, onde acontecem quase todas as grandes feiras por aqui.
Não foi assim uma experiência espetacular, mas gostei de ter ido.
O local não era nada peculiar, um pavilhão frio e sem personalidade alguma. O clima não fechava. Mas havia caldo verde, chouriços, vinho de boa qualidade, queijos, arroz doce e muito fado.
Bons fadistas, ninguém famoso e tal, mas um bom espetáculo, porque afinal, por aqui, quem canta fado é porque sabe cantar fado, do contrário, nem se mete. E depois têm toda uma performance, quando se apresentam.
É bonito. É típico. Soa bem.

É Lisboa.
Tudo bem que foram mais de quatro horas de fado.

Fado Vadio, como chamam os fados ditos amadores, cantados nos bairros típicos por amantes do fado que, no tempo livre, dão voz ao sentimento, através do fado. E que são cantados nas tabernas, tascas e bares rústicos.
Mas quatro horas de fado, vadio ou não, acaba quase saindo pelas orelhas, a menos que a pessoa morra de amores pelo fado. Ou que seja um fadista, o
que eu não sou, pois nem fado canto, porque não sei cantar. Cantar fado exige dom, exercício e muito sentimento. E uma voz especial, que só quem sabe cantar fado tem. E que eu não tenho. Ah...sim, e uma senhora performance de palco. E acho que é preciso ainda que se tenha sangue lusitano e, sobretudo, que se tenha nascido em Lisboa ou arredores, num desses famosos bairros típicos. E eu fui nascer lá em Pelotas, no Brasil, que apesar de ter e cultivar toda uma tradição portuguesa, é um lugar onde ainda não se inventou de cantar o fado.
Seja como for, eu gostei.

Gostei mesmo.
Tanto que ontem, a convite dos nossos amigos Énio e Isa, fomos de novo, repetir a dose.
Só que ontem foi lá no Ateneu da Madre de Deus. Ali ao pé do Beato, uma freguesia típica de Lisboa.
E aí sim pude ver o que é uma verdadeira Noite de Fado, nos moldes tradicionais.
Prá começar, o Ateneu é algo.
O Ateneu é uma sociedade onde se reúne a coletividade da freguesia. Lá jogam, têm atividades culturais, atividades esportivas, aprendem música, como se fosse um clube, em termos de Brasil. E lá também comem. Porque aqui, segundo o Arsénio, em todo o lado se come, a gente não brinca em serviço.
E o Ateneu tem uma arquitetura toda jeitosa, que deve datar do século dezenove ou coisa que o valha, apesar de a associação ter sido fundada apenas em 1945.
É bonito. E só aí já se tem o clima do encontro.
Quando entrei na sala, tive a sensação de estar entrando numa daquelas salas que usam para fazer novelas de época.
E não descrevo mais, porque as fotografias falam por si.


Bem, começamos por comer, claro. Porque antes de tudo, come-se.
Já falei...
Caldo verde, bacalhau desfiado ao alho, pão, queijo, entremeadas, bifanas, arroz doce e vinho. Tudo bem, alguns não bebem vinho, o que é um meio sacrilégio, mas passa. Por isso as coca-colas, fantas, ice teas e seven ups na mesa. Na verdade, típico mesmo nessas noitadas é o caldo verde, isto me disseram.
Não, não, a gente não comeu tudo isso. Só caldo verde e bacalhau. Mas havia várias opções. Ah...claro, eu comi arroz doce, sim. Mas foi depois. E era bem bom! Uma dose homeopática, que tive de repetir.
Evidente, pá!
Mas juro que só repeti uma vez.
Ah...sim, também havia o café, que sem isso quase nenhum português que se preze passa.

********************
Casa cheia, toda a gente alimentada, cafés devidamente tomados, apagam-se as luzes, continua-se a beber vinho, e o espetáculo começa.
A propósito e, antes que eu esqueça, só um pequeno detalhe a mim deixou a desejar. As apresentações aconteceram praticamente no escuro. Sem luz para que se pudesse ver o rosto do cantante. Cruel. Só uma luzinha vermelha lá no alto, e nem dava direto no palco. Era por traz da cabeça, meio na lateral.
Gosto de ver a expressão de uma pessoa que canta. Se é um costume cantar fado, vadio ou não, no escuro, isso já não sei. O que sei é que fico devendo as fotos dos artistas no ato de cantar. Por isso.
O apresentador e mestre, por assim dizer, era o senhor Alfredo. Não tive tempo de ir à cata desta informação mas, se bem entendi, é um dos amantes de fado que promove estes encontros aqui e ali, mas sobretudo ali no Ateneu.
E pela mão dele, desfilaram na noite as vozes e encantaram-nos muitos fadistas, homens e mulheres, de todas as idades.
O clima é de uma certa nostalgia, de muito respeito pela música. E ali estão pessoas que, com certeza, amam tudo isso.
Silêncio, que se vai cantar o fado.
**********************
Devo dizer que tenho o hábito de carregar na bolsa, a todo o canto onde vou, um caderninho vermelho, onde costumo anotar coisas interessantes e que não quero esquecer.
Ontem a minha amiga Isa tomou conta do meu caderno e fez-me a gentileza de anotar os acontecimentos da noite, com a maior paciência e dedicação. Por isso é que sei os nomes dos artistas que aqui vou escrever, as músicas que cantaram e outras observações que ela teve o cuidado de fazer.

Acompanhando os fadistas, na guitarra, José Manuel Castro e na Viola de Fado, Chico do Carmo (que também canta maravilhosamente).
Não preciso dizer, excelentes.
Os fadistas:
Fernando Pereira - Fado do Estudante e Canoa
Ana Semedo (jovem promessa do fado) Julguei Endoideçer - Tristão da Silva e Lisboa e o Tejo - Marina Mota ( Atenção a Marina não é a Autora do poema, ela cantou na revista, observação feita pela própria Ana Semedo)
Américo Grova - Mãe e Roseira, Botão de Gente
Cláudia Leal - Quem me Dera, Não Quero e Lágrima
José Manuel de Castro - Somos duas sombras juntas, num fado entardecer.
Emanuel Figueiredo - Silêncio, hoje morreu um poeta e Guitarra, toca baixinho
Lina de Almeida - Vinte Anos e Tudo isto é Fado
Mário Santos - Cruz e Lá Longe ( fado a desgarrada entre Mário Santos e Emanuel Figueiredo)
Manuela Ribeiro - Não passes com ela à minha rua e Nem às Paredes Confesso
Ricardo Aires - (também jogador de futebol) juventude nos fados
Fernando Varela (mesmo adoentado, fez questão de ir cantar) - Mouraria e Fora de Lei
Luis Espírito Santo - Segredo e Pintor
Manuela Dias - Júlia Florista e Quero-te sempre para mim
Pedro Lisboa - Feliz Saudade e A Bruxa
Odete Rosa - Vielas de Alfama e Há cinco minutos
Olga de Sousa - Manuel
Ainda houve mais, porém a esta altura o pessoal quis vir embora. Ficou prá próxima.
Passamos ali horas muito agradáveis e cheias de emoção.
Quem diz que o fado morreu, está muito enganado.
O fado vive.
A tradição vive.
Viva Lisboa!
Viva Portugal!
Palavras da minha amiga Isa, ao final dos seus apontamentos.
Valeu!
Adorei!
**Nota - Se houver qualquer engano nos nomes dos fadistas ou dos fados, por favor, perdoem-me e corrijam. Aceito de bom grado.

2 comentários:

Helena Teixeira disse...

Olá!
Deve ser uma experiência musical riquissima ir a uma casa de Fados,das tradicionais.Ainda nao fui,hei-de ir e levar o meu pai que é muito apreciador de fados.Falaram-me de uma casa muito boa no bairro da Ajuda.Lá terei de averiguar.

Aproveito e reitero um convite:
Participe na Blogagem de Novembro do blogue www.aldeiadaminhavida.blogspot.com
O tema é: O meu Magusto.
Basta enviar um texto máximo 25 linhas e 1 foto para aminhaldeia@sapo.pt
Participe!

Jocas gordas
Lena

INÊS MELO disse...

MINHA LINDA QUEM CANTA É O JOSÉ MANUEL DE CASTRO E NÃO O CHICO DO CARMO....DESCULPA A INTROMISSÃO