Gostei mesmo.
Tanto que ontem, a convite dos nossos amigos Énio e Isa, fomos de novo, repetir a dose.
Só que ontem foi lá no Ateneu da Madre de Deus. Ali ao pé do Beato, uma freguesia típica de Lisboa.
E aí sim pude ver o que é uma verdadeira Noite de Fado, nos moldes tradicionais.
Prá começar, o Ateneu é algo.
O Ateneu é uma sociedade onde se reúne a coletividade da freguesia. Lá jogam, têm atividades culturais, atividades esportivas, aprendem música, como se fosse um clube, em termos de Brasil. E lá também comem. Porque aqui, segundo o Arsénio, em todo o lado se come, a gente não brinca em serviço.
E o Ateneu tem uma arquitetura toda jeitosa, que deve datar do século dezenove ou coisa que o valha, apesar de a associação ter sido fundada apenas em 1945.
É bonito. E só aí já se tem o clima do encontro.
Quando entrei na sala, tive a sensação de estar entrando numa daquelas salas que usam para fazer novelas de época.
E não descrevo mais, porque as fotografias falam por si.
Bem, começamos por comer, claro. Porque antes de tudo, come-se.
Já falei...
Caldo verde, bacalhau desfiado ao alho, pão, queijo, entremeadas, bifanas, arroz doce e vinho. Tudo bem, alguns não bebem vinho, o que é um meio sacrilégio, mas passa. Por isso as coca-colas, fantas, ice teas e seven ups na mesa. Na verdade, típico mesmo nessas noitadas é o caldo verde, isto me disseram.
Não, não, a gente não comeu tudo isso. Só caldo verde e bacalhau. Mas havia várias opções. Ah...claro, eu comi arroz doce, sim. Mas foi depois. E era bem bom! Uma dose homeopática, que tive de repetir.
Evidente, pá!
Mas juro que só repeti uma vez.
Ah...sim, também havia o café, que sem isso quase nenhum português que se preze passa.
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Casa cheia, toda a gente alimentada, cafés devidamente tomados, apagam-se as luzes, continua-se a beber vinho, e o espetáculo começa.
A propósito e, antes que eu esqueça, só um pequeno detalhe a mim deixou a desejar. As apresentações aconteceram praticamente no escuro. Sem luz para que se pudesse ver o rosto do cantante. Cruel. Só uma luzinha vermelha lá no alto, e nem dava direto no palco. Era por traz da cabeça, meio na lateral.
Gosto de ver a expressão de uma pessoa que canta. Se é um costume cantar fado, vadio ou não, no escuro, isso já não sei. O que sei é que fico devendo as fotos dos artistas no ato de cantar. Por isso.
O apresentador e mestre, por assim dizer, era o senhor Alfredo. Não tive tempo de ir à cata desta informação mas, se bem entendi, é um dos amantes de fado que promove estes encontros aqui e ali, mas sobretudo ali no Ateneu.
E pela mão dele, desfilaram na noite as vozes e encantaram-nos muitos fadistas, homens e mulheres, de todas as idades.
O clima é de uma certa nostalgia, de muito respeito pela música. E ali estão pessoas que, com certeza, amam tudo isso.
Silêncio, que se vai cantar o fado.
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Devo dizer que tenho o hábito de carregar na bolsa, a todo o canto onde vou, um caderninho vermelho, onde costumo anotar coisas interessantes e que não quero esquecer.
Ontem a minha amiga Isa tomou conta do meu caderno e fez-me a gentileza de anotar os acontecimentos da noite, com a maior paciência e dedicação. Por isso é que sei os nomes dos artistas que aqui vou escrever, as músicas que cantaram e outras observações que ela teve o cuidado de fazer. Acompanhando os fadistas, na guitarra, José Manuel Castro e na Viola de Fado, Chico do Carmo (que também canta maravilhosamente).
Não preciso dizer, excelentes.
Os fadistas:
Fernando Pereira - Fado do Estudante e Canoa
Ana Semedo (jovem promessa do fado) Julguei Endoideçer - Tristão da Silva e Lisboa e o Tejo - Marina Mota ( Atenção a Marina não é a Autora do poema, ela cantou na revista, observação feita pela própria Ana Semedo)
Américo Grova - Mãe e Roseira, Botão de Gente
Cláudia Leal - Quem me Dera, Não Quero e Lágrima
José Manuel de Castro - Somos duas sombras juntas, num fado entardecer.
Emanuel Figueiredo - Silêncio, hoje morreu um poeta e Guitarra, toca baixinho
Lina de Almeida - Vinte Anos e Tudo isto é Fado
Mário Santos - Cruz e Lá Longe ( fado a desgarrada entre Mário Santos e Emanuel Figueiredo)
Manuela Ribeiro - Não passes com ela à minha rua e Nem às Paredes Confesso
Ricardo Aires - (também jogador de futebol) juventude nos fados
Fernando Varela (mesmo adoentado, fez questão de ir cantar) - Mouraria e Fora de Lei
Luis Espírito Santo - Segredo e Pintor
Manuela Dias - Júlia Florista e Quero-te sempre para mim
Pedro Lisboa - Feliz Saudade e A Bruxa
Odete Rosa - Vielas de Alfama e Há cinco minutos
Olga de Sousa - Manuel
Ainda houve mais, porém a esta altura o pessoal quis vir embora. Ficou prá próxima.
Passamos ali horas muito agradáveis e cheias de emoção.
Quem diz que o fado morreu, está muito enganado.
O fado vive.
A tradição vive.
Viva Lisboa!
Viva Portugal!
Palavras da minha amiga Isa, ao final dos seus apontamentos.
Valeu!
Adorei!
**Nota - Se houver qualquer engano nos nomes dos fadistas ou dos fados, por favor, perdoem-me e corrijam. Aceito de bom grado.